sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Uma viagem de autocarro

Ontem
entrei no autocarro
e não era hora de ponta
e ouvi:
- já não ouço nada do ouvido esquerdo;
- o que será feito do vizinho Alfredo;
- ainda não morreu, mas está a dar muitos trabalhos;
- eu cá já tenho que chegue para mim,
uma artrose, uma hérnia e cataratas;
- e eu arranjei agora esta amante
(e mostrou uma bela bengala);
- eu cá ainda vou ao bailarico todas as quartas,
e não há quem chegue para mim;
- olha, eu agora só lá vou com muito pim-pim,
e ás vezes nem assim;
- eu cá quero é sopas e descanso;
- sabes quem é que morreu? O Sr. Sancho;
- já era muito velhinho, coitadinho;
- que descanse em paz;
- sabes quem é que já está no lar?
- o vizinho Gaspar,
mas parece que não tem dinheiro para o pagar;

Entretanto,
entrou no autocarro
uma jovem toda cheia de encanto
a falar ao telemóvel:
- tipo, aonde vais passar o ano, tipo,
gostava muito de ir contigo, tipo;
(próxima paragem Rua dos Jarros)
eu vou sair deste autocarro, já