terça-feira, 4 de março de 2014

Dia do Entrudo

Hoje é dia do Entrudo
e vou mascarar-me de sultão,
vou vestir um sedoso sobretudo,
como só eles usam,
e vou ao banco dos mellos
levantar dez milhões de dólares
para comprar todos os castelos
da serra de Colares
e ficar rico por um dia,
o dia do Entrudo

Hoje é dia do Entrudo
e vou mascarar-me de arlequim
e vou ser o bobo da corte
do Rei do Entrudo,
vou dar o melhor de mim
para ser o seu consorte,
para ser o seu benjamim
e ficar rico por um dia,
o dia do Entrudo

Hoje é dia do Entrudo
e vou mascarar-me de troglodita,
vou descer à minha caverna
até perder a luz do dia
e despertar o Buda que hiberna
em mim e sentir o ventre da terra
até que atinja o Nirvana
apenas por um dia,
o dia do Entrudo

Hoje é dia do Entrudo
e vou mascarar-me de corrupto,
ou talvez de maçónico,
ou talvez de profeta,
ou talvez de bruxo,
ou talvez de receptor do dízimo,
para ser rico por um dia,
o dia do Entrudo

E amanhã já não será
o dia do Entrudo,
será o dia das Cinzas
e ouviremos pregar
"lembra-te homem que és pó
e em pó te hás-de tornar"
assim mesmo, sem dó,
nem piedade,
apenas a verdade,
(bolas! estraguei tudo,
por escrever esta verdade,
o Rei do Entrudo
já não me deixa mascarar)