quarta-feira, 9 de julho de 2014

O meu aspirador

Liguei o aspirador,
vrummmmmmmm,
não passa de um bicho robot
e sempre mal disposto,
vrummmmmmmm,
enganei-me no acessório
e aspirei a minha paciência
em vez do pó
da despensa

O meu aspirador
é  um corpo com motor,
mas não anda sozinho,
para andar tem que ser puxado,
é só mimo,
e depois tem tubos, escovas, bocais,
filtros, mangueiras, pegas, e tem um saco,
e eu aflito

Vrummmmmmmmm,
e no hall dos quartos, não sei como, enrolei
o meu pé direito no cabo que liga o meu aspirador
à electricidade e dei uma tal pirueta que fiquei
de pernas para o ar em cima do corpo
do meu aspirador e ele sempre a bombar
e eu tombado, vergado, todo torto,
a transpirar, em brasa,
vrummmmmmmmmm,
cala-te seu badameco,
seu tractor de trazer por casa,
não vês o que me fizeste?

Vrummmmmmmmm,
não se calou,
continuou a aspirar os pós
e os pozinhos e os novelos
de cabelos,
e o meu aspirador encheu o saco
de pó e de tudo o que fica de nós
no chão, no soalho

E esvaziei o saco cheio,
mas fi-lo com tanta falta de jeito
que o pó saiu-me do saco
como se fosse fogo-fátuo
e espalhou-se à minha volta
e voltou a voar à solta
e voltou a assentar no meu soalho
que já estava aspirado e lavado

Liguei outra vez o aspirador,
vrummmmmmm,
e ele aspirou outra vez o mesmo pó
que saía em tornado
do corpo do aspirador,
fiquei atónito,
esqueci-me de pôr o saco