sábado, 30 de agosto de 2014

Trinta e três anos

Estava tão longe daqui
quando chamaste por mim,
andava nas nuvens aluado
montado num atrelado
puxado por um arlequim

Estava tão longe daqui
quando me disseste
que ainda gostavas de mim,
que ainda não me perdeste
e que vai ser assim até ao fim

Estava tão longe daqui
quando me anunciaste
que estamos assim e aqui
há 33 anos neste cais
e que vai ser assim até ao fim

Estava tão longe daqui
quando chamaste por mim
e me recordaste tanta coisa,
e eu nem sequer me lembrei
de te oferecer uma rosa,
desculpa, sou assim

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O fim do mundo

Naquela manhã
as árvores da alameda
não davam sombra
e as pessoas caminhavam
e a sua própria sombra
também não aparecia,
e já fazia muito sol,
e ainda não era meio-dia,
e já ninguém aguentava o sol,
mas onde é que estaria
a sombra?
ninguém sabia

Começou o pânico,
não havia sombra,
nada fazia sombra ao sol,
e o sol aquecia, aquecia,
e ainda não era meio-dia,
e já estava tudo a ficar mole,
quase em papa,
mas onde é que estava
a sombra?
nem dentro de casa

E veio uma informação da NASA,
o Sol vai engolir a Terra,
dentro de dias, talvez semanas,
ninguém se safa

O Homem
começou a rezar aos seus deuses,
os animais, os outros, começaram a morrer
mais cedo,
as plantas começaram a secar e a arder,
os rios e os oceanos minguaram de sede,
o Sol começava a ficar mais perto,
meu Deus, é o fim do mundo,
deste mundo já quase deserto

Foi então que o Sol
enviou uma comunicação à Terra
que dizia
"ou o Homem acaba com a guerra,
ou eu acabo com o Homem"
e, mesmo com esta ameaça de morte certa,
o Homem só assinou acordos
temporários de cessar fogo
para se poderem contar os mortos,
para se poderem reconstruir as casas,
e o Homem anunciou ao Sol
que não haveria mais guerra na Terra,
que haveria paz, paz, paz, só paz,
mas o Sol não acreditou no Homem
e, zás-catrás,
engoliu a Terra

Bem feito!,
os terráqueos desapareceram,
bem feito!,
só estavam a estorvar,
disseram os habitantes de Marte
e da Europa,
(sim da Europa, uma das luas de Júpiter),
ao lerem o boletim meteorológico
daquele dia,
do dia em que o Sol engoliu a Terra

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Uma história

Os netinhos e as netinhas
estavam à volta do avô
a ouvir contos e adivinhas
enquanto a avó limpava o pó
da cantareira e das cantarinhas

Ó avô, conta-nos outra história,
queremos continuar a ouvir-te,
vá lá, ainda tens boa memória,
nós queremos saber mais de ti,
queremos ouvir a tua sabedoria

Era uma vez uma bruxa muito má
que tinha como sua única vizinha
uma fada muito boa, muito amada,
e que repartia tudo o que tinha
com quem batia à porta da sua casa

E um dia a bruxa muito má
bateu à porta da fada boa
e pediu-lhe torradas e chá
e queijo e presunto e broa,
e começou logo a praguejar

Ó Avô, não nos contes mais
histórias de bruxas e de fadas,
e de castelos com fantasmas,
e de donzelas sós e encantadas,
e de milagres e outras que tais

Ó Avô, conta-nos antes a história
dos senhores ricos e banqueiros,
já disseste que são a nossa escória,
que roubam os nossos mealheiros,
que gastam o nosso dinheiro lá fora

Era uma vez um Banco bom
e um Banco mau, criados na hora,
(e o Avô desmaiou e acabou
aqui esta história)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O deus Shiva

Vejam só o que me aconteceu,
encontrei uma estátua do deus Shiva
enterrada nos lodos do rio Trancão,
mesmo junto à sua foz, mesmo ali
a olhar para mim, quase viva

E logo a estátua do deus Shiva,
ela é de pedra, é pesada, é dura,
tem quatro quilos e trezentos gramas
e palmo e meio de altura,
e não lhe falta quase nada
(pelas minhas contas,
só lhe falta a cabeça da serpente naja)

E é o deus Shiva,
o deus Hindu da renovação da vida,
da renovação para melhor,
presumo eu, dado que tem fama
de ser mau, de ser destruidor
(ele segura numa mão um tridente
e noutra um cântaro,
mas ainda tem mais duas mãos,
uma acaricia o joelho e a outra acena)

E eu já estou a imaginar a foz do Trancão
como local de peregrinação
para os hindus,
já estou a ver aí um festival Kumbh Mela,
como em Allahabad,
onde se juntam aqueles homens todos nus
e barbudos, encharcados de lama
e de cores garridas, são os gurus hindus
que encontram a sua purificação e salvação
ao banharem-se nas águas do rio Ganges
(é o maior festival religioso do mundo
que chega a juntar mais de trinta milhões de almas,
todas a mostrar aos seus deuses e deusas
que são puras e que merecem viver eternamente
felizes cá na Terra e sempre com figura de gente)

E eu trouxe a estátua do deus Shiva
para minha casa
e lembrei-me da Nossa Senhora Aparecida,
padroeira do Brasil,
cuja estátua também foi encontrada na borda
de um rio, na borda do rio Paraíba,
mas era uma simples estátua de terracota
e muita pequena, muito leve e sem cabeça
(há quem diga que é tudo mentira),
enquanto a minha estátua do deus Shiva
é pesada, é de pedra rija,
tem dois pés, duas pernas, quatro mãos e uma cabeça
e não tem nada de virgem, nem de Maria

E eu trouxe a estátua do deus Shiva
para minha casa
e lavei-a e perfumei-a,
e agora vou protegê-la
da minha tribo iconoclasta
Dizem que ela é feia,
muito feia,
mas ela não é feia, ela é muito bela,
e não é de fantasia, nem falsa,
porque é pesada, porque é de pedra,
e se alguém se joelha
junto duma estátua
e implora, e chora, e reza,
é porque tem fé e confiança nela,
mas uma estátua é sempre uma estátua,
apenas isso, uma estátua

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O labirinto e a Rosa dos Ventos

Estou a ficar desorientado, sem norte,
já não me lembro por onde sai o caminho
que me leva daqui para fora,
para fora deste labirinto,
não quero ficar aqui dentro, à nora,
sem demora, quero ir embora,
quero seguir o meu destino

Quero libertar-me deste labirinto,
quero descobrir o caminho
que me leve para o infinitamente
grande, ou para o infinitamente pequeno,
ou para as latitudes de ar húmido e quente,
ou para as alturas que se debruçam abruptas
em abismos abissais impenetráveis,
pode ser um caminho que vá sempre em frente,
ou um caminho que tenha curvas,
ou que percorra desertos com miragens,
ou que me faça mergulhar em águas turvas,
ou em águas turbulentas e cristalinas,
não me interessa, quero é descobrir o caminho
que me tire desta confusão, destas esquinas
labirínticas, sem contornos, sem perspectivas

E um caminho é sempre um caminho,
está traçado, já por lá passou alguém,
tem valetas, tem geometria, tem um destino,
que pode ser o seu fim, ou ir mais além,
até se cruzar com outros caminhos

Mas não me interessa
para aonde me levam os caminhos,
quero é saber onde começa
o caminho que sai deste labirinto,
porque tenho pressa de sair,
tenho pressa de fugir,
porque já sinto um cheiro a réptil,
ou um cheiro a um qualquer sauro,
será que me soltaram o Minotauro?

- Sim, soltaram-te o Minotauro,
e as suas garras são poderosas,
foge delas, corre, vai pela esquerda,
corre mais, agora vira à direita,
cuidado com essas poças
de lama e de merda,
não toques na parede desfeita,
corre ainda mais, vai sempre em frente,
agora desce esses degraus,
cuidado, não escorregues,
não olhes para os vãos
e agarra-te bem ao corrimão,
ao fundo do corredor vê se consegues
subir a escada e abrir o alçapão,
isso, conseguiste, não esmoreças,
segue sempre em frente, não corras,
cuidado, não te apoies nas maçanetas,
algumas delas abrem as masmorras,
agora vira à direita, outra vez à direita,
agora já à esquerda,
pára, enganaste-te, volta atrás
e vira logo à direita que era
a tua esquerda,
isso, agora calma, caminha mais devagar,
não, não vás por essa porta aberta,
segue o corredor,
ó, apagou-se a luz,
pára, espera,
estás a ouvir uma voz, um clamor?
não lhe ligues, é um embuste,
mas estás ainda no túnel
e sem luz, sentes calor?
claro que sentes calor,
experimenta seguir em linha recta,
não, não, assim não, estás a ir aos tombos,
endireita-te, cuidado com a cabeça,
já estás perto da saída,
caíste, levanta-te, endireita os ombros,
foi só uma pequena caída,
mais uns passos, mais uns passos,
já não há escombros,
já vês a saída? -

Sim, já vejo uma luz ao fundo,
vou correr, vou correr,
vejo uma saída, vejo uma saída, vejo uma saída,
não vou ainda morrer, não vou ainda morrer,
viva a vida, viva a vida,
saí do labirinto, saí do labirinto,
mas quem me pôs lá?
mas quem me tirou de lá?

Não interessa, não interessa,
já estou cá fora,
saí do labirinto, saí do labirinto,
agora tomo este caminho,
vou-me embora, vou-me embora
luz, luz, luz, luz, tenho a luz do sol,
vou-me já por este caminho
- vai que vais bem, esse caminho leva-te para o norte -,
diz-me a Rosa dos Ventos,
e vou mesmo, assim já não voltarei a perder o norte,
e no norte, mesmo lá no norte,
encontrarei a terra dos silêncios
e a vastidão dos gelos eternos
que congelam tudo, tudo, até a morte

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Ao António Variações

Ele era um Anjo
e não sabia que o era,
mas ele vestia de branco
e de primavera

Ele era trovador
e sabia que o era,
cantou-nos a sua dor
e a sua quimera

Ele era poeta
e sabia que o era,
leu-nos a sua alma
e o seu corpo de sal

Ele queria viver,
não importava até quando,
mas ele era um Anjo
e não tinha que morrer

Mas morreu, e morreu de morte traiçoeira
que espreita os corpos que ardem de desejo,
vai-te ó morte cínica, vai-te ó morte matreira,
não maces mais os amantes com o teu bocejo

E ele morreu
e de nada lhe valeu
o seu Anjo da Guarda,
morreu ele,
mas não morreu a sua palavra,
mas não morreu a sua canção,
essas nunca morrerão

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Bom dia

Bom dia, bom dia,
porque é outro dia,
e é outro dia
porque é um dia de cada vez
até ao final de cada mês,
até ao final de cada ano,
até quando for a nossa vez
de acabar de vez

Bom dia, bom dia,
porque é dia outra vez
e porque ninguém
deseja um mau dia
a ninguém,
mas há sempre alguém
que no final de cada dia
diz "mas que merda de dia"

Bom dia, bom dia,
e viva a monotonia,
bom dia
e vou encher a almotolia
de azeite que comprei no Dia,
e viva a monotonia
dos segundos, dos minutos,
das horas, dos dias, dos meses,
dos anos a passarem em segundos

Bom dia, bom dia,
e amanhã é outro dia,
e vou já encher a pia
com água fria
para pôr as trusses na lixívia

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Um simples relato de Verão

Apanhei um escaldão,
um escaldão muito localizado,
um escaldão no sítio das costas
aonde não chega a minha mão
esquerda e a minha mão do outro lado,
o direito, afinal, o meu creme de protecção
da radiação solar UVA
não é contrafacção,
não é feito de água da chuva
misturado com cinza e sabão,
pois, protegeu toda a juba
das minhas costas aonde chega a minha mão

Mas, nas minhas costas
aonde não chegam as minhas mãos,
uma de cada vez, ou justapostas,
apanhei um escaldão e fiquei encarnado
como a cor da crosta das lagostas
quando são cozidas vivas no tacho

É verdade que sempre tive as costas largas,
mas não chegar a toda as partes
das minhas costas cheias de sardas
com a palma das minhas mãos é castigo,
é um sinal de limitação incompreensível,
só os outros podem tocar nesse sítio,
e eu não lhe chego, está escondido,
bem atrás das minhas costas, inatingível

Apanhei um escaldão e fiquei  a escaldar,
o que me vale são os banhos de água fria
na banheira, e não no mar,
porque assim escaldado e com tanto arrepio,
se fosse mergulhar na água do mar
ficava a praia vazia
de tanto gritar

Escaldado, água fria, escaldão,
vermelhão,
a culpa é do Verão,
mas se eu chegasse com a minha mão
a toda a área das minhas costas
não culparia ninguém do meu escaldão,
para a próxima dou as minhas costas
a quem me quiser dar a mão
para aí espalhar o meu creme de protecção,
mas espero que me passe o escaldão
com este simples relato de Verão

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Com que então uma pipa de massa

O Durão Barroso está a preparar-se
para ter acesso à pipa de massa
doada pela sua Comissão a Portugal,
são 26 mil milhões,
vai ser um regabofe, um festival,
para o Durão e seus durões

Dêem-lhe antes uma pipa de vinho
azedo, daquele que sabe a vinagre,
e púcaros cheios de resina de pinho
que, nas gargantas de quem é alarve,
sabe a doce de mel de rosmaninho

Portugueses a passar fome,
desempregados, desesperados,
espoliados, emigrados sem nome,
sacrificados,
tudo para reajustar as contas públicas,
porque se gasta muito com os reformados,
com a saúde e com a educação gratuitas,
vão bardamerda, seus desalmados

Que venha, pois, a pipa da massaroca,
vai parar toda às mão da gente benzoca,
que só se sabe governar à custa do suor
dos trabalhadores, gente honesta e séria
que continua a suportar os salários de miséria
e os impostos sobre o trabalho e sobre a dor

E esses benzocas bancários, latifundiários,
oportunistas, caciques, parasitas, patos bravos, 
vão logo comprar um potente calhambeque
e construir solários ou palácios sumptuários,
e viva a pipa da CEE cheia de massa de cherne
temperada e cozinhada por mentecaptos 

Com que então uma pipa de massa da Europa,
vão à fava,
como se fôssemos gente que adora
ser humilhada,
como se fôssemos uns pedintes,
como se fôssemos gente parva,
vão à fava
seus vendedores de farinha de nada 

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Uma gaivota

Uma gaivota jazia
sozinha, quietinha,
na areia fresquinha
da maré vazia

Estava desfalecida,
estava a morrer,
quis dar-lhe vida
e ela a morrer

Levanta-te e voa,
ó triste gaivota,
junta-te ao teu bando,
retoma o teu canto

Ela mexeu-se e abriu
o bico, talvez para dizer
que o seu fulgor fugiu
e que quer apenas morrer

E ela nada me pede
e eu nada faço por ela,
talvez só tenha sede,
talvez melhore com a maré

segunda-feira, 4 de agosto de 2014


O sistema financeiro

O sistema financeiro
resume-se a um alçapão
para onde o nosso amigo e conselheiro
que, por mero acaso, também é banqueiro,
atira o dinheiro que lhe é dado em mão

E o dinheiro é multiplicado
por debaixo do alçapão,
melhor dizendo, é alavancado,
e ninguém percebe essa multiplicação,
é o tal sistema opaco,
e quando não alavanca
é por culpa da alavanca

Mas quando os vigilantes
da ética financeira liberal
entram no buraco que o alçapão tapa,
descobrem sempre que não há lá nada,
sumiu, evaporou, foi-se com o vendaval,
não, não é roubo, nem roubalheira,
apenas falhou a engenharia financeira,
e, assim, nenhum desses engenheiros
vai catar piolhos para a Carregueira
e quem ficou a arder que chame os bombeiros,
e que viva o liberalismo e a canalhice financeira 

E nem sequer podemos ir
aos fundilhos desses financeiros ladrões,
que, por serem da alta finança,
não roubam, não são ladrões,
ficam somente menos cagões
por uns tempos;
enquanto dura o cerco e o aperto
ainda lhes dá a diarreia,
mas isso dura pouco,
os cagalhões duros, bem cagados,
merda pura e com altos teores de ouro,
depressa dão lugar às poias
dessa merda liquefeita, que é só de pobre,
ah, mas isto ainda vai acabar mal,
ah, vai, vai

E o Banco dos Espíritos Santos
passou hoje a ser o Banco Mau,
o Banco do Diabo,
e não vale a pena rezar ao São Mateus,
foi todo o dinheiro por água abaixo,
e os Espíritos Santos subiram aos Céus,
porque aqui na Terra ninguém os acha

domingo, 3 de agosto de 2014

Agosto

E chegou Agosto, e já estamos em Agosto,
e temos praia, sol e chuva de muitas estrelas,
as lágrimas de São Lourenço após o sol-posto,
são os restos do Swift-Tuttle e de outros cometas

E eu que gosto tanto dos cometas,
são bonitos, são angélicos,
são vagabundos, são  borboletas,
e, ainda por cima, não são esféricos

E os cometas têm cauda e esporas
e talvez não sejam o que se diz,
pois parecem setas voadoras
disparadas por arlequins

Ou serão antes flores aladas
lançadas ao vento estelar
por estrelas apaixonadas
e com ânsias de amar

Ou serão amuletos do mal
que anunciam fomes na Terra
deixados no espaço sideral
por algum deus da guerra

Ou serão naves tripuladas
por seres alienígenas
que esqueceram as coordenadas
do lar de onde são indígenas

Ou serão as trombetas do apocalipse
tocadas pelos cavaleiros do inferno,
ou não houve alguém que já disse
que o mundo acaba no próximo inverno

Ou serão apenas e afinal
cornetas sopradas por querubins
que anunciam o Dia do Juízo Final
às almas penadas e afins

Sejas o que fores ó cometa,
espero que na tua próxima viagem
a este terráqueo planeta
eu ainda esteja nesta paragem

O quê! dizes-me que voltas cá
só daqui a um século
e que então o que é já não será
e que eu serei um tubérculo

Vai-te ó mau mensageiro
desta minha Via Láctea
e que te façam prisioneiro
já na próxima galáxia

E daqui a um século
eu serei um unicórnio alado
e não um tubérculo,
seu pedaço de gelo com rabo

E se então te encontrar no espaço
mandar-te-ei contra um planeta,
ficarás morto, despedaçado,
e ninguém saberá que foste cometa

Esperem, estou a delirar

Eu só queria falar do mês de Agosto
e, afinal, fiquei zangado com um cometa,
desculpem o desvario da minha caneta,
às vezes não me obedece e o verso sai torto
-------------------------------------------
Que tenham um excelente Agosto

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Primeiras primárias

Estou entusiasmadíssimo,
que é o mesmo que dizer
com muito tesão, ou tesíssimo,
com as primeiras primárias
de um partido político português

Nestas primeiras primárias.
voto eu, o meu primo, a minha prima,
o meu cão e a cadela da minha vizinha,
e, segundo umas sondagens, ainda precárias,
o melhor ganhará ao pior,
mas o pior é que o vencedor poderá ser o pior
e não o melhor

Pelo menos não haverá chapeladas,
garantia do Coelhone,
mas, ó Coelhone das trapalhadas,
é melhor silenciares o teu megafone,
eu até sei de uma laranjeira
que passou a dar laranjas cor-de-rosa
e de um grupo de excursionistas
da freguesia da Carpalhosa
que sempre foram carneiristas
e que agora vão votar nas primárias
socialistas

Vá lá, Coelhone,
não negues, confessa
que não tens controlo
na coisa, vá lá, confessa

E tu PS,
deixa-te de espectáculos eleitorais
à americana, que é gente rica,
e resolve os teus problemas
apenas com o voto dos teus militantes
que tenham a cota em dia,
e não cries mais dúvidas, mais dilemas
aos que, sendo apenas teus votantes,
estão a ficar hesitantes