Aquele pato trigueiro
Aquele pato
não gosta de patas,
é um patusco
e não se reproduz,
não é um pato lógico,
é um pato ilógico
e naquela "pataria"
só deambula um pato,
assim,
não haverá patinhos,
nem patinhas,
nem patacas,
naquela "pataria"
Por isso, aquelas patas
andam tristes e empatadas,
não comem e não voam,
e nem ovos põem
Mas, numa certa manhã,
aquela "pataria"
estava um alvoroço,
toda ela era alegria,
de noite, um pato bem macho,
e novo,
veio a voar dos confins da pradaria
e entrou na dita "pataria",
seguiu-se uma rebaldaria,
galou todas as patas
e ainda quis enrolar o pato,
coitado
Era um pato trigueiro,
bem escuro,
ele saltou a vala e o muro,
bem-vindo pato estrangeiro
segunda-feira, 27 de abril de 2015
sexta-feira, 24 de abril de 2015
La Terre n'est pas ronde
Je viens du bout du monde
et mon bateau n'est plus là,
j'ai appris que la Terre est ronde,
pourtant, il y a partout des parois
Je suis un clandestin naufragé,
au secours, aidez-moi, je veux vivre,
je veux vivre en liberté,
au secours, aidez-moi, je veux sourire
Oui, je viens du bout du monde,
là où la Terre est carrée,
oui, je suis un clandestin noyé,
mais pourquoi la Terre n'est pas ronde
pour tout le monde ?
Adieu
Je viens du bout du monde
et mon bateau n'est plus là,
j'ai appris que la Terre est ronde,
pourtant, il y a partout des parois
Je suis un clandestin naufragé,
au secours, aidez-moi, je veux vivre,
je veux vivre en liberté,
au secours, aidez-moi, je veux sourire
Oui, je viens du bout du monde,
là où la Terre est carrée,
oui, je suis un clandestin noyé,
mais pourquoi la Terre n'est pas ronde
pour tout le monde ?
Adieu
quarta-feira, 22 de abril de 2015
Olá, sou uma bomba
Olá, sou uma bomba,
sim, sou uma bomba,
acabei de nascer, não vos vou dizer do que sou feita,
é segredo militar, mas o meu corpo é uma compota
de materiais compósitos e de concentrado de ameixa,
diz o meu manual em inglês e alemão que sou para desfazer
em estilhaços e vapor tóxico, daquele que não evapora,
mato bem e de repente, pena é não poder ver morrer
os seres que vou matar, queria vê-los com a língua de fora
Sou uma bomba e estou num armazém,
bolas, ainda não vou matar,
por cima de mim, por baixo, de lado, estão mais bombas como eu,
parece-me que têm mais calibre e estão a protestar, a resmungar,
também estão desertas para matar e o caldo delas já arrefeceu,
o meu ainda está meio quente, vou ter que ser muito paciente,
sou uma bomba proibida pelas convenções, mas não me interessa,
nasci para explodir e para matar, portanto vou matar toda a gente
que respirar os meus gazes letais de cloro, de sarin e de merda
Esperem, ouço vozes,
dizem que nos vão colar a helicópteros,
que adrenalina, meu deus, vou voar, vou cair a pique no chão,
estou tão entusiasmada, vou matar, já estão a tirar os suspensórios
que agarravam o meu cu electrónico à prateleira, já estava com comichão,
aí vou eu a caminho do hangar, vou devagar, levam-me com cuidado,
se eu me viesse agora só morreriam estes miseráveis soldados
e eu fui feita para matar muita gente, mas já estou encaixada no lado
esquerdo deste helicóptero todo preto, já estão lançados os dados
Urra, urra, levantei voo,
sou uma bomba inteligente,
vou queimar o trigo e o joio,
vou matar muita gente
Urra, urra, já estou a cair,
o meu tesão está ao rubro,
urra, já caí, estou a explodir,
vim-me sem fazer barulho
E depois vemos o jornalista, o fotógrafo, o repórter,
o funcionário da ONU,
a vaguearem abstractos por cima de corpos
inchados, gaseados, a morte veio de helicóptero,
foi assim na Síria, eram dezenas e estavam mortos,
e a tecnologia mostrou tudo ao mundo,
porra, estamos todos a ir ao fundo,
porra, poupem, pelo menos, as aves
porra, poupem, pelo menos, as árvores
Ó Homem inteligente,
por que razão continuas a fabricar armas?
Ó Homem combatente,
por que razão não combates somente
com a força das tuas palavras,
com a força do teu corpo, com a força da tua mente?
------------------------------------
Hoje é o Dia da Terra
Olá, sou uma bomba,
sim, sou uma bomba,
acabei de nascer, não vos vou dizer do que sou feita,
é segredo militar, mas o meu corpo é uma compota
de materiais compósitos e de concentrado de ameixa,
diz o meu manual em inglês e alemão que sou para desfazer
em estilhaços e vapor tóxico, daquele que não evapora,
mato bem e de repente, pena é não poder ver morrer
os seres que vou matar, queria vê-los com a língua de fora
Sou uma bomba e estou num armazém,
bolas, ainda não vou matar,
por cima de mim, por baixo, de lado, estão mais bombas como eu,
parece-me que têm mais calibre e estão a protestar, a resmungar,
também estão desertas para matar e o caldo delas já arrefeceu,
o meu ainda está meio quente, vou ter que ser muito paciente,
sou uma bomba proibida pelas convenções, mas não me interessa,
nasci para explodir e para matar, portanto vou matar toda a gente
que respirar os meus gazes letais de cloro, de sarin e de merda
Esperem, ouço vozes,
dizem que nos vão colar a helicópteros,
que adrenalina, meu deus, vou voar, vou cair a pique no chão,
estou tão entusiasmada, vou matar, já estão a tirar os suspensórios
que agarravam o meu cu electrónico à prateleira, já estava com comichão,
aí vou eu a caminho do hangar, vou devagar, levam-me com cuidado,
se eu me viesse agora só morreriam estes miseráveis soldados
e eu fui feita para matar muita gente, mas já estou encaixada no lado
esquerdo deste helicóptero todo preto, já estão lançados os dados
Urra, urra, levantei voo,
sou uma bomba inteligente,
vou queimar o trigo e o joio,
vou matar muita gente
Urra, urra, já estou a cair,
o meu tesão está ao rubro,
urra, já caí, estou a explodir,
vim-me sem fazer barulho
E depois vemos o jornalista, o fotógrafo, o repórter,
o funcionário da ONU,
a vaguearem abstractos por cima de corpos
inchados, gaseados, a morte veio de helicóptero,
foi assim na Síria, eram dezenas e estavam mortos,
e a tecnologia mostrou tudo ao mundo,
porra, estamos todos a ir ao fundo,
porra, poupem, pelo menos, as aves
porra, poupem, pelo menos, as árvores
Ó Homem inteligente,
por que razão continuas a fabricar armas?
Ó Homem combatente,
por que razão não combates somente
com a força das tuas palavras,
com a força do teu corpo, com a força da tua mente?
------------------------------------
Hoje é o Dia da Terra
domingo, 19 de abril de 2015
Um momento mágico
Eles estão sentados frente a frente
a contemplar as vistas de Lisboa,
bebericam ginjas com aguardente
e as horas cantam no sino que soa
Lá mais em baixo, as águas do Tejo
reflectem a luz da tarde serena,
na música ambiente corre um beijo
e a esplanada torna-se pequena
Mais uma ginja e mais um poejo,
mais doces de gila e de canela,
mais uma história, mais um desejo,
algo de mágico há nesta janela!
Naquele instante cruzam-se no Tejo
um submarino e uma caravela
Eles estão sentados frente a frente
a contemplar as vistas de Lisboa,
bebericam ginjas com aguardente
e as horas cantam no sino que soa
Lá mais em baixo, as águas do Tejo
reflectem a luz da tarde serena,
na música ambiente corre um beijo
e a esplanada torna-se pequena
Mais uma ginja e mais um poejo,
mais doces de gila e de canela,
mais uma história, mais um desejo,
algo de mágico há nesta janela!
Naquele instante cruzam-se no Tejo
um submarino e uma caravela
sábado, 18 de abril de 2015
Um desmaio
Estou tonto, estou torto,
estou a ver tudo à roda,
estou a sentir o meu corpo
a levantar voo,
o chão foge-me, sinto-me morto,
vem-me à boca um enjoo,
acho que aterrei,
acho que caí redondo,
acho que vomitei,
acho que desmaiei
Levantei-me,
foi só uma leve tontura,
exagero sempre
da minha loucura
de hipocondríaco paciente
Estou tonto, estou torto,
estou a ver tudo à roda,
estou a sentir o meu corpo
a levantar voo,
o chão foge-me, sinto-me morto,
vem-me à boca um enjoo,
acho que aterrei,
acho que caí redondo,
acho que vomitei,
acho que desmaiei
Levantei-me,
foi só uma leve tontura,
exagero sempre
da minha loucura
de hipocondríaco paciente
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Vem comigo
Vem comigo para o mar,
vem, cola-te bem a mim,
às minhas costas de ar,
vem, hoje sou pinguim
Vem comigo ver o sol,
vem, aconchega-te a mim
e senta-te no meu colo,
vem, hoje sou querubim
Vem comigo para a lua,
vem, sobe a este porão
com o teu fato de água,
vem, hoje sou foguetão
Vem comigo ver o magma
na sua forja, no manto,
é fogo de rocha em chama,
vem, hoje nasci Vulcano
Vem comigo à ribeira
ver a água a passar,
corre limpinha e cheia,
vem, hoje sou nenúfar
Vem, vem, vem comigo,
vamos voar, nadar, ver,
sentir, cantar, vem amigo,
hoje é proibido sofrer
Vem comigo para o mar,
vem, cola-te bem a mim,
às minhas costas de ar,
vem, hoje sou pinguim
Vem comigo ver o sol,
vem, aconchega-te a mim
e senta-te no meu colo,
vem, hoje sou querubim
Vem comigo para a lua,
vem, sobe a este porão
com o teu fato de água,
vem, hoje sou foguetão
Vem comigo ver o magma
na sua forja, no manto,
é fogo de rocha em chama,
vem, hoje nasci Vulcano
Vem comigo à ribeira
ver a água a passar,
corre limpinha e cheia,
vem, hoje sou nenúfar
Vem, vem, vem comigo,
vamos voar, nadar, ver,
sentir, cantar, vem amigo,
hoje é proibido sofrer
segunda-feira, 13 de abril de 2015
Catacumbas
Hoje acordei revoltado comigo e com o mundo,
hoje acordei em Yarmuk,
acordei em Sana'a, em Alepo, em Gamboru,
acordei nas favelas do Rio,
nas vallas de Ceuta e Melilla, em Lampedusa,
hoje acordei na rua, tenho fome e frio,
estou a precisar de uma milagrosa dose
para acabar com esta minha alergia e tosse
Por isso,
Não me acompanhem nesta viagem ao surreal
sem nexo, apetece-me sofrer, dizer mal,
apetece-me gritar, correr, mexer no essencial
dos valores e pintar a miséria da cor da cal,
assim mesmo, branquinha, para não se distinguir
da opulência imaculada, da vaidade, do rico a fingir
que paga a sua dízima para alimentar as chusmas
de famintos, os desgraçados que vivem nas catacumbas
Não me acompanhem nesta viagem, fiquem quietos,
e se não gostarem de me ver a afogar na tristeza,
apaguem-me, depositem-me no lixo onde voam insectos
ávidos de odores fedorentos e de mórbida beleza,
esbofeteiem-me, mudem de página, carreguem-me de fetos
viçosos, esses seres vivos que são o maior feito da natureza,
nunca esmorecem, são fortes e verdes e gostam das chuvas,
reproduzem-se muito e bem, servem de lençóis nas catacumbas
Túneis e túneis, penumbras, fedores,
ratos, merda, salamandras, urina,
nas catacumbas movem-se os bolores
dos dejectos da vida que há por cima,
vida disforme de dor, vejam os horrores
das guerras, dos genocídios, quem domina
tem força e poder para matar as pombas,
são os alimentadores das catacumbas
Ricos, pobres, raças, gente adoradora
de deuses inventados para convencer
um corpo ressequido que não chora,
nem grita, nem come, quer só morrer
para não sofrer das mordeduras do frio
que se injecta de noite no seu corpo esguio
e inerte, quase habitante das húmidas tumbas,
mais húmidas do que o escuro das catacumbas
Imundícies de lodo e de esterco,
voam abutres, seguem as hienas,
procuram corpos, fazem o cerco,
este corpo não que tem penas,
não fede a podre, está fresco,
não tem tripas, nem gangrenas,
eles são os comedores de carne podre
e cheiram a catacumbas, cheiram a fedor
Corpos gelados sem calças, sem meias,
morrem desdentados os dependentes
de drogas que endurecem as veias,
não tinham pasta para os dentes,
nem para sustentar as alcateias
de fornecedores de entorpecentes,
estes são demónios a dançar rumbas
e a empurrar incautos para as catacumbas
Torrentes subterrâneas de vapores
pestilentos que enlameiam as condutas
de respiração deste planeta de cores
pálidas de tanta lixeira de restos de frutas
e de merda fabricada nos ventres dos senhores
capitalistas donos de escravos e das suas brutas
senhoras que se vestem de ouro e de ricas plumas,
eles e elas cheiram pior que as catacumbas
Não, não me acompanhem nesta viagem ao surreal
sem nexo, apetece-me afundar no pantanal
cheio de répteis famintos a mostrarem os dentes,
não me acompanhem, fiquem dormentes,
a guerra está longe, a fome também, mas depressa
chega ao nosso quintal, à nossa despensa,
pois eu estou a sofrer pelas nossas misérias imundas,
pelas guerras, e não tenho forças para limpar as catacumbas
Hoje acordei revoltado comigo e com o mundo,
hoje acordei em Yarmuk,
acordei em Sana'a, em Alepo, em Gamboru,
acordei nas favelas do Rio,
nas vallas de Ceuta e Melilla, em Lampedusa,
hoje acordei na rua, tenho fome e frio,
estou a precisar de uma milagrosa dose
para acabar com esta minha alergia e tosse
Por isso,
Não me acompanhem nesta viagem ao surreal
sem nexo, apetece-me sofrer, dizer mal,
apetece-me gritar, correr, mexer no essencial
dos valores e pintar a miséria da cor da cal,
assim mesmo, branquinha, para não se distinguir
da opulência imaculada, da vaidade, do rico a fingir
que paga a sua dízima para alimentar as chusmas
de famintos, os desgraçados que vivem nas catacumbas
Não me acompanhem nesta viagem, fiquem quietos,
e se não gostarem de me ver a afogar na tristeza,
apaguem-me, depositem-me no lixo onde voam insectos
ávidos de odores fedorentos e de mórbida beleza,
esbofeteiem-me, mudem de página, carreguem-me de fetos
viçosos, esses seres vivos que são o maior feito da natureza,
nunca esmorecem, são fortes e verdes e gostam das chuvas,
reproduzem-se muito e bem, servem de lençóis nas catacumbas
Túneis e túneis, penumbras, fedores,
ratos, merda, salamandras, urina,
nas catacumbas movem-se os bolores
dos dejectos da vida que há por cima,
vida disforme de dor, vejam os horrores
das guerras, dos genocídios, quem domina
tem força e poder para matar as pombas,
são os alimentadores das catacumbas
Ricos, pobres, raças, gente adoradora
de deuses inventados para convencer
um corpo ressequido que não chora,
nem grita, nem come, quer só morrer
para não sofrer das mordeduras do frio
que se injecta de noite no seu corpo esguio
e inerte, quase habitante das húmidas tumbas,
mais húmidas do que o escuro das catacumbas
Imundícies de lodo e de esterco,
voam abutres, seguem as hienas,
procuram corpos, fazem o cerco,
este corpo não que tem penas,
não fede a podre, está fresco,
não tem tripas, nem gangrenas,
eles são os comedores de carne podre
e cheiram a catacumbas, cheiram a fedor
Corpos gelados sem calças, sem meias,
morrem desdentados os dependentes
de drogas que endurecem as veias,
não tinham pasta para os dentes,
nem para sustentar as alcateias
de fornecedores de entorpecentes,
estes são demónios a dançar rumbas
e a empurrar incautos para as catacumbas
Torrentes subterrâneas de vapores
pestilentos que enlameiam as condutas
de respiração deste planeta de cores
pálidas de tanta lixeira de restos de frutas
e de merda fabricada nos ventres dos senhores
capitalistas donos de escravos e das suas brutas
senhoras que se vestem de ouro e de ricas plumas,
eles e elas cheiram pior que as catacumbas
Não, não me acompanhem nesta viagem ao surreal
sem nexo, apetece-me afundar no pantanal
cheio de répteis famintos a mostrarem os dentes,
não me acompanhem, fiquem dormentes,
a guerra está longe, a fome também, mas depressa
chega ao nosso quintal, à nossa despensa,
pois eu estou a sofrer pelas nossas misérias imundas,
pelas guerras, e não tenho forças para limpar as catacumbas
sexta-feira, 10 de abril de 2015
O meu amigo do peito
O meu amigo gosta de me ver,
admira os meus bons ares,
enquanto eu escrevo poemas de enternecer,
ele trauteia cantigas populares,
é mesmo assim, ao entardecer,
na esplanada do Tavares
Ele diz que eu tenho mais jeito
para cavar para batatas
e para andar à frente das vacas,
é um querido, este meu amigo do peito
Mas faz-me rir, o meu amigo,
diz que pode ser conde,
mas não pode ter um palácio,
faz-me chorar o meu conde
quando diz que é meu amigo
O meu amigo é deste mundo,
queixa-se da falta do que é material
e anda sempre a ir ao fundo,
o que tu precisas é de ajuda espiritual,
digo-lhe eu quando mostro o trunfo
Sim, jogamos às cartas, à bisca,
discutimos a defesa do Benfica,
mas que grande seca,
digo eu à minha camisa,
mas o meu amigo não despega
Hoje não quero ir para casa,
diz-me o meu amigo, depois
de uma tarde ao balcão da tasca
a beber finos e a comer caracóis,
tenho medo do rolo da massa
Vai, vai para casa, amigo,
enrola-te no sofá, ou põe-te à janela,
vê a TV, escuta bem o crítico
da bola e segue a telenovela,
tenta entender o político
Vai, vai para casa, amigo,
e sempre que precisares de mim,
chama-me, vou contigo preencher o vazio,
vamos dizer que a vida é assim:
somos regato quando nascemos,
levezinhos, puros, sem fastio,
ainda com pouca voz,
depois crescemos e crescemos,
ficamos pesados, amargurados, com frio,
ficamos assustados de ficarmos sós,
de enlouquecermos,
a vida é assim, o nosso regato é agora um rio,
um rio lodoso quase a cair na foz
O meu amigo gosta de me ver,
admira os meus bons ares,
enquanto eu escrevo poemas de enternecer,
ele trauteia cantigas populares,
é mesmo assim, ao entardecer,
na esplanada do Tavares
Ele diz que eu tenho mais jeito
para cavar para batatas
e para andar à frente das vacas,
é um querido, este meu amigo do peito
Mas faz-me rir, o meu amigo,
diz que pode ser conde,
mas não pode ter um palácio,
faz-me chorar o meu conde
quando diz que é meu amigo
O meu amigo é deste mundo,
queixa-se da falta do que é material
e anda sempre a ir ao fundo,
o que tu precisas é de ajuda espiritual,
digo-lhe eu quando mostro o trunfo
Sim, jogamos às cartas, à bisca,
discutimos a defesa do Benfica,
mas que grande seca,
digo eu à minha camisa,
mas o meu amigo não despega
Hoje não quero ir para casa,
diz-me o meu amigo, depois
de uma tarde ao balcão da tasca
a beber finos e a comer caracóis,
tenho medo do rolo da massa
Vai, vai para casa, amigo,
enrola-te no sofá, ou põe-te à janela,
vê a TV, escuta bem o crítico
da bola e segue a telenovela,
tenta entender o político
Vai, vai para casa, amigo,
e sempre que precisares de mim,
chama-me, vou contigo preencher o vazio,
vamos dizer que a vida é assim:
somos regato quando nascemos,
levezinhos, puros, sem fastio,
ainda com pouca voz,
depois crescemos e crescemos,
ficamos pesados, amargurados, com frio,
ficamos assustados de ficarmos sós,
de enlouquecermos,
a vida é assim, o nosso regato é agora um rio,
um rio lodoso quase a cair na foz
terça-feira, 7 de abril de 2015
A lista VIP foi assim
Ao alcance de um clic
tenho a lista dos VIP,
ou então ponho o rato
a morder o sapato
Morde e morde bem
o cabrão do meu rato,
morde o meu sapato
e o de mais alguém
Cliquei uma vez pra ver,
era um dos tais VIP
e não pagou o IMT,
tive que ir à PIDE
Ó Anúncio diz lá
aos teus miúdos da AT
que eu blá, blá, blá, blá,
diz-me, pois, quem me vê
Tou muito com stress
por se saber que devo
ao fisco e à SS,
quem não guardou segredo?
Tá descansado, pá,
faz-se uma ratoeira
no sistema informá (tico),
ele cai na asneira
De lá ir outra vez
e já está agarrado,
vês! foi este maltês
que não teve cuidado
Tá bem, ó Anúncio,
toma lá esta lista
e não abras o pio,
sou eu e a ministra
Põe-te a ti e também
o CS e o PP,
se faltar mais alguém,
avisamos a AT
Sim, senhor, meu primeiro,
ordem para cumprir,
já disse ao porteiro,
ele sabe como agir
Mais discussões pra quê?
a lista VIP foi assim,
mas oiçam, quanto a mim,
não deve haver segredo
Só os barões e os ricos
podem fugir ao fisco,
e ai de nós, os aflitos,
se pisarmos o risco
Força, malta do fisco,
não sejam uns paspalhos,
façam deles petisco,
malhem-lhes com vergalhos
--------------------------------------
Viva o Dia Nacional do Moinho
Ao alcance de um clic
tenho a lista dos VIP,
ou então ponho o rato
a morder o sapato
Morde e morde bem
o cabrão do meu rato,
morde o meu sapato
e o de mais alguém
Cliquei uma vez pra ver,
era um dos tais VIP
e não pagou o IMT,
tive que ir à PIDE
Ó Anúncio diz lá
aos teus miúdos da AT
que eu blá, blá, blá, blá,
diz-me, pois, quem me vê
Tou muito com stress
por se saber que devo
ao fisco e à SS,
quem não guardou segredo?
Tá descansado, pá,
faz-se uma ratoeira
no sistema informá (tico),
ele cai na asneira
De lá ir outra vez
e já está agarrado,
vês! foi este maltês
que não teve cuidado
Tá bem, ó Anúncio,
toma lá esta lista
e não abras o pio,
sou eu e a ministra
Põe-te a ti e também
o CS e o PP,
se faltar mais alguém,
avisamos a AT
Sim, senhor, meu primeiro,
ordem para cumprir,
já disse ao porteiro,
ele sabe como agir
Mais discussões pra quê?
a lista VIP foi assim,
mas oiçam, quanto a mim,
não deve haver segredo
Só os barões e os ricos
podem fugir ao fisco,
e ai de nós, os aflitos,
se pisarmos o risco
Força, malta do fisco,
não sejam uns paspalhos,
façam deles petisco,
malhem-lhes com vergalhos
--------------------------------------
Viva o Dia Nacional do Moinho
domingo, 5 de abril de 2015
A minha Páscoa
Páscoa significa passagem,
mas alguém sabe como é a outra margem
para aonde se vai por essa passagem?
Será um horizonte de imagens?
Será apenas uma ilusão
que sustenta a nossa falta de coragem
de sermos mortais?
Será que a fé e a convicção
no Juízo Final, e a consequente romagem
ao paraíso, salvam apenas a alma de quem é cristão?
Eu não sei,
e julgo que ninguém sabe,
apenas sei como era a minha Páscoa em criança,
não era passagem, era esperança,
Jesus Cristo ressuscitou, Aleluia, viva a vida, viva a vida,
as paredes da nossa casa estavam caiadas com cal viva
imaculadamente branca,
a sala estava encerada, arejada, alegre,
aí não faltavam ornamentos florais
com cores e cheiros da serra,
tudo para dar as boas vindas às visitas pascais
compostas de personagens adornadas
de tons garridos e carregadas com água benta da cisterna,
beijávamos a Cruz e entoávamos aleluias, hosanas e salmos,
lá fora aguardava uma carroça puxada por uma égua
que transportava uma capoeira cheia de galinhas e de galos
E eu, criancinha, ali de joelhos
a rezar e a esperar que do saco escarlate
dos confeitos saíssem também coelhos,
coelhinhos, ovos, ovinhos, pepitas
e outras ternuras fofinhas de chocolate,
mas não, só saíam confeitos,
e eram tão duros, tão duros, que me feriam as gengivas,
os dentes e os beiços
-----------------------------------------
Desejo uma Páscoa feliz a todos os meus caros leitores
Páscoa significa passagem,
mas alguém sabe como é a outra margem
para aonde se vai por essa passagem?
Será um horizonte de imagens?
Será apenas uma ilusão
que sustenta a nossa falta de coragem
de sermos mortais?
Será que a fé e a convicção
no Juízo Final, e a consequente romagem
ao paraíso, salvam apenas a alma de quem é cristão?
Eu não sei,
e julgo que ninguém sabe,
apenas sei como era a minha Páscoa em criança,
não era passagem, era esperança,
Jesus Cristo ressuscitou, Aleluia, viva a vida, viva a vida,
as paredes da nossa casa estavam caiadas com cal viva
imaculadamente branca,
a sala estava encerada, arejada, alegre,
aí não faltavam ornamentos florais
com cores e cheiros da serra,
tudo para dar as boas vindas às visitas pascais
compostas de personagens adornadas
de tons garridos e carregadas com água benta da cisterna,
beijávamos a Cruz e entoávamos aleluias, hosanas e salmos,
lá fora aguardava uma carroça puxada por uma égua
que transportava uma capoeira cheia de galinhas e de galos
E eu, criancinha, ali de joelhos
a rezar e a esperar que do saco escarlate
dos confeitos saíssem também coelhos,
coelhinhos, ovos, ovinhos, pepitas
e outras ternuras fofinhas de chocolate,
mas não, só saíam confeitos,
e eram tão duros, tão duros, que me feriam as gengivas,
os dentes e os beiços
-----------------------------------------
Desejo uma Páscoa feliz a todos os meus caros leitores
quinta-feira, 2 de abril de 2015
Olá, Glória
Olá, Glória,
mais um ano se passou
na tua história,
mais um ano se somou
à tua vida de glória
Olá, Glória,
põe de lado a tristeza
e a desventura,
mostra a tua beleza
e a tua alma pura
Olá, Glória,
a vida continua
e a vida é assim,
dura e crua,
rega o teu alecrim
Olá, Glória,
faz hoje um bolo,
um bolo de chocolate,
mas não o comas todo,
guarda para mim a melhor parte
Olá, Glória,
tem um feliz aniversário,
a vida também é vitória,
não feches o teu armário
e aceita esta dedicatória
Parabéns, Glória
Olá, Glória,
mais um ano se passou
na tua história,
mais um ano se somou
à tua vida de glória
Olá, Glória,
põe de lado a tristeza
e a desventura,
mostra a tua beleza
e a tua alma pura
Olá, Glória,
a vida continua
e a vida é assim,
dura e crua,
rega o teu alecrim
Olá, Glória,
faz hoje um bolo,
um bolo de chocolate,
mas não o comas todo,
guarda para mim a melhor parte
Olá, Glória,
tem um feliz aniversário,
a vida também é vitória,
não feches o teu armário
e aceita esta dedicatória
Parabéns, Glória
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