A Florbela
Há muitos anos, fui passar a tarde dum domingo
ao baile das sopeiras na encosta do Parque,
serviam lá cerveja, couratos, tremoços, verdinho,
valsas, boleros, marchas, tangos, e também muita arte
e manha no jogo da vermelhinha
Dancei com a Florbela, era sopeira
numa pensão à Estefânia,
tinha vindo há pouco da Madeira,
lá era muita boca a comer
e a dormir na mesma cama
- aqui, os restos da ceia
chegam para se dormir sem doer
Disse-me que eu dançava bem
e que tinha ar de saloio,
à segunda marcha já gostava de mim
e perguntou qual era o meu poiso
- Uma camarata, Florbela,
uma camarata com vista
para o saguão por uma minúscula janela
e não esperes nada de mim,
sou um utópico pessimista
e não faço nada para ser feliz
Algum tempo depois encontrei a Florbela
numa rua ao Intendente,
- sabes, já não sirvo sopas,
mas aqui tenho que ser sempre quente,
mesmo quando bato o dente,
e foge daqui, este sítio não é para lorpas,
foge, foge, antes que te piquem as pulgas
A Florbela continuou o seu passeio
e eu fugi dali,
mas a Florbela era bela, muito bela,
nunca mais a vi
domingo, 31 de maio de 2015
sexta-feira, 29 de maio de 2015
Os lobos
Descem da montanha
os lobos
e assustam o povoado
com os seus uivos,
são os espíritos malignos
que aproveitam a meia-noite para cantarem no adro,
dizem as bruxas, as que dançam no cemitério
à mesma hora badalada pelos sinos
da torre da igreja, é um mistério
do demónio que encanta as almas
que ardem no inferno,
são esses fantasmas
que uivam à meia-noite
no meio das fragas
Descem da montanha
os lobos famintos
para comer o que há
no povoado,
não há que comer na montanha,
nem no povoado,
mas os lobos não desistem,
ainda estão fortes
e o povoado fraco,
não come, sofre de alucinações,
só reza as orações das mortes,
todas as noites há visões,
transfigurações, aparições,
e o povoado, distraído pelas pregações,
é comido pelos lobos
De barriga cheia,
os lobos voltam à montanha
que, entretanto, recuperou a teia
da sua mesa farta, da sua pujança,
e reúne-se a alcateia
para agradecer à governança,
a alcateia está, outra vez, de barriga cheia,
viva o poder do mais forte,
no povoado só ficam uma velha e uma criança,
e a morte
Descem da montanha
os lobos
e assustam o povoado
com os seus uivos,
são os espíritos malignos
que aproveitam a meia-noite para cantarem no adro,
dizem as bruxas, as que dançam no cemitério
à mesma hora badalada pelos sinos
da torre da igreja, é um mistério
do demónio que encanta as almas
que ardem no inferno,
são esses fantasmas
que uivam à meia-noite
no meio das fragas
Descem da montanha
os lobos famintos
para comer o que há
no povoado,
não há que comer na montanha,
nem no povoado,
mas os lobos não desistem,
ainda estão fortes
e o povoado fraco,
não come, sofre de alucinações,
só reza as orações das mortes,
todas as noites há visões,
transfigurações, aparições,
e o povoado, distraído pelas pregações,
é comido pelos lobos
De barriga cheia,
os lobos voltam à montanha
que, entretanto, recuperou a teia
da sua mesa farta, da sua pujança,
e reúne-se a alcateia
para agradecer à governança,
a alcateia está, outra vez, de barriga cheia,
viva o poder do mais forte,
no povoado só ficam uma velha e uma criança,
e a morte
terça-feira, 26 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
Festival da Eurovisão
O Festival da Eurovisão
faz este ano sessenta anos,
parabéns sessentão,
non ho l'età per amarti,
foi, para mim, a primeira canção,
apesar da minha idade,
apaixonei-me pela Gigliola,
cabeça tola
Depois coleccionei canções,
alguns poemas, personagens,
vencedores, perdedores, frustrações,
mensagens, imagens,
danças, revoluções,
discussões
On a tous un banc, un arbre, une rue,
tu te reconnaîtras, de troubadour,
ai aquela Lenny kuhr,
como pedras rolando, a festa da vida,
quem me abandonou, de quem me esqueci,
quem me devolve aquela alegria?
menina de andar de linho,
com um ribeiro à cintura,
eira de milho, luar de agosto,
quem faz um filho fá-lo por gosto,
em Madrid ganharam quatro,
para Portugal quatro votos, um mimo,
obteve o penúltimo posto,
não faz mal, só temos um vizinho
e esse raramente nos dá o seu voto
E diz o inteligente, acabaram-se as canções,
não, não acabaram,
power to all our friends,
pays d'amour n'a pas de frontière,
no insistas más, la fiesta terminó,
nuku pommiin, haegt hljótt, gente di mare,
algo pequeñito, algo chiquitito,
nocturne, j'aime, j'aime la vie, n'oubliez pas,
love shine a light, wars for nothing,
etc. etc. etc.
Parabéns, festival sessentão,
este ano ganhou a Suécia,
quase nunca ganha a canção
de que eu mais gosto, paciência,
para o ano haverá mais festival
da eurovisão,
talvez ganhe Portugal
O Festival da Eurovisão
faz este ano sessenta anos,
parabéns sessentão,
non ho l'età per amarti,
foi, para mim, a primeira canção,
apesar da minha idade,
apaixonei-me pela Gigliola,
cabeça tola
Depois coleccionei canções,
alguns poemas, personagens,
vencedores, perdedores, frustrações,
mensagens, imagens,
danças, revoluções,
discussões
On a tous un banc, un arbre, une rue,
tu te reconnaîtras, de troubadour,
ai aquela Lenny kuhr,
como pedras rolando, a festa da vida,
quem me abandonou, de quem me esqueci,
quem me devolve aquela alegria?
menina de andar de linho,
com um ribeiro à cintura,
eira de milho, luar de agosto,
quem faz um filho fá-lo por gosto,
em Madrid ganharam quatro,
para Portugal quatro votos, um mimo,
obteve o penúltimo posto,
não faz mal, só temos um vizinho
e esse raramente nos dá o seu voto
E diz o inteligente, acabaram-se as canções,
não, não acabaram,
power to all our friends,
pays d'amour n'a pas de frontière,
no insistas más, la fiesta terminó,
nuku pommiin, haegt hljótt, gente di mare,
algo pequeñito, algo chiquitito,
nocturne, j'aime, j'aime la vie, n'oubliez pas,
love shine a light, wars for nothing,
etc. etc. etc.
Parabéns, festival sessentão,
este ano ganhou a Suécia,
quase nunca ganha a canção
de que eu mais gosto, paciência,
para o ano haverá mais festival
da eurovisão,
talvez ganhe Portugal
sexta-feira, 22 de maio de 2015
O trolha de Camarate
O trolha de Camarate,
que fuma o que parece ser erva-mate,
namora uma moça
que mora em Moscavide,
que curte um bacano de Sacavém
que namora uma filha do David
que mora para além
de Unhos, nas margens do Trancão,
e que não gosta de viver aí
Certo dia, o trolha de Camarate
cruzou o Trancão
para a ir ver a sua moça ao balcão
de um café da Bobadela
onde ela serve chá, copos de tinto
e cerveja à pressão,
mas nesse dia ela tinha ido à Portela
da Azóia encontrar-se com um cinquentão
do Bairro da Covina
que queria ter como amante
uma mimosa menina,
e o trolha de Camarate
acabou por casar na Apelação
com uma miúda do Catujal
que o deixou logo a seguir
por manifesta traição
nos meandros dum canavial
nas margens do Trancão
com uma garina do Estacal,
que fica depois de São João da Talha,
este mundo está muito mal,
Deus nos valha
Os pais da miúda do Catujal
foram, entretanto, a Camarate ...
E a 316, que vinha de Santa Iria de Azóia,
chegou à Estação do Oriente,
fim do percurso, desembarcou toda a gente,
desembarcou também o telemóvel que vinha a contar esta história
O trolha de Camarate,
que fuma o que parece ser erva-mate,
namora uma moça
que mora em Moscavide,
que curte um bacano de Sacavém
que namora uma filha do David
que mora para além
de Unhos, nas margens do Trancão,
e que não gosta de viver aí
Certo dia, o trolha de Camarate
cruzou o Trancão
para a ir ver a sua moça ao balcão
de um café da Bobadela
onde ela serve chá, copos de tinto
e cerveja à pressão,
mas nesse dia ela tinha ido à Portela
da Azóia encontrar-se com um cinquentão
do Bairro da Covina
que queria ter como amante
uma mimosa menina,
e o trolha de Camarate
acabou por casar na Apelação
com uma miúda do Catujal
que o deixou logo a seguir
por manifesta traição
nos meandros dum canavial
nas margens do Trancão
com uma garina do Estacal,
que fica depois de São João da Talha,
este mundo está muito mal,
Deus nos valha
Os pais da miúda do Catujal
foram, entretanto, a Camarate ...
E a 316, que vinha de Santa Iria de Azóia,
chegou à Estação do Oriente,
fim do percurso, desembarcou toda a gente,
desembarcou também o telemóvel que vinha a contar esta história
segunda-feira, 18 de maio de 2015
O palhaço pobre
Ele era um palhaço,
um palhaço homem,
estava no meio da praça
a esbracejar, a dizer que tinha fome,
e gritava, amaldiçoava, ria,
saltava, fazia malabarismos e piruetas,
nos intervalos declamava poesia,
sabia os poemas de cor,
sabia até o nome dos poetas,
mas ele era um palhaço pobre,
pobre e mascarado de dor
Os espectadores riam,
chamavam-lhe maluco, doido,
uns vinham, outros iam,
de repente, o palhaço parou,
parou e olhou em redor,
depois circulou,
os seus olhos pediam calor,
as mãos algum auxílio,
mas, como não houve mais espectáculo,
foi-se embora o espectador,
ficou o silêncio, o vazio,
e nem um cêntimo no receptáculo
E o palhaço pobre chorou,
sim, ele chorou,
vi as lágrimas a escorrerem no seu rosto
de pó de arroz,
sim, ele ficou só com o seu desgosto,
e chorou
Aproximei-me mais dele,
fixei o meu olhar naquele rosto triste
e depositei cinco euros na sua alcofa,
depois aplaudi:
- Ola, ¿Dónde es usted?
- Olá, sou de Lisboa
- Bienvenido a Madrid
Ele era um palhaço,
um palhaço homem,
estava no meio da praça
a esbracejar, a dizer que tinha fome,
e gritava, amaldiçoava, ria,
saltava, fazia malabarismos e piruetas,
nos intervalos declamava poesia,
sabia os poemas de cor,
sabia até o nome dos poetas,
mas ele era um palhaço pobre,
pobre e mascarado de dor
Os espectadores riam,
chamavam-lhe maluco, doido,
uns vinham, outros iam,
de repente, o palhaço parou,
parou e olhou em redor,
depois circulou,
os seus olhos pediam calor,
as mãos algum auxílio,
mas, como não houve mais espectáculo,
foi-se embora o espectador,
ficou o silêncio, o vazio,
e nem um cêntimo no receptáculo
E o palhaço pobre chorou,
sim, ele chorou,
vi as lágrimas a escorrerem no seu rosto
de pó de arroz,
sim, ele ficou só com o seu desgosto,
e chorou
Aproximei-me mais dele,
fixei o meu olhar naquele rosto triste
e depositei cinco euros na sua alcofa,
depois aplaudi:
- Ola, ¿Dónde es usted?
- Olá, sou de Lisboa
- Bienvenido a Madrid
terça-feira, 12 de maio de 2015
Um quadro do Picasso
O Pablo Picasso
sodomizava as suas mulheres,
era um devasso,
berrava-lhes: tem que ser assim
se me queres,
depois colava-se à sua tela, e mais um traço,
e mais um corpo de pernas para o ar
com o cu à mostra por cima de um braço
agarrado a um ombro com a mama de fora,
no lado esquerdo um traço de mulher
de mãos dadas, a púbis e as mamas estão à mostra,
no centro mais cus e mais mamas,
tudo virado do avesso,
e este quadro do Picasso
"Les femmes d'Alger (Version O)",
pintado em 1955,
foi vendido, ontem, pela Casa Christie's,
de Nova Iorque,
por cento e sessenta vírgula oito milhões de euros,
bateu o recorde
O Pablo Picasso
sodomizava as suas mulheres,
era um devasso,
berrava-lhes: tem que ser assim
se me queres,
depois colava-se à sua tela, e mais um traço,
e mais um corpo de pernas para o ar
com o cu à mostra por cima de um braço
agarrado a um ombro com a mama de fora,
no lado esquerdo um traço de mulher
de mãos dadas, a púbis e as mamas estão à mostra,
no centro mais cus e mais mamas,
tudo virado do avesso,
e este quadro do Picasso
"Les femmes d'Alger (Version O)",
pintado em 1955,
foi vendido, ontem, pela Casa Christie's,
de Nova Iorque,
por cento e sessenta vírgula oito milhões de euros,
bateu o recorde
domingo, 10 de maio de 2015
Uma sesta no campo
Ontem dormi a sesta numa cama de erva fresca
pintalgada com lírios, papoilas e margaças,
sonhei que era actor numa ópera burlesca
e que rebolava entre abóboras e cabaças
Embalou-me a suave brisa e o som do chocalho
que pendia do pescoço de um angélico anho
ainda a tiritar por falta de agasalho,
apeteceu-me envolvê-lo com a lã do meu manto
Quando acordei, a luz solar já não aquecia,
os lírios e as papoilas já se tinham deitado,
o anho e o seu rebanho também já não os via
Fiquei triste e em silêncio no meio do prado,
o entardecer traz-me sempre a melancolia,
revejo-me no Sol a descair para o ocaso
Ontem dormi a sesta numa cama de erva fresca
pintalgada com lírios, papoilas e margaças,
sonhei que era actor numa ópera burlesca
e que rebolava entre abóboras e cabaças
Embalou-me a suave brisa e o som do chocalho
que pendia do pescoço de um angélico anho
ainda a tiritar por falta de agasalho,
apeteceu-me envolvê-lo com a lã do meu manto
Quando acordei, a luz solar já não aquecia,
os lírios e as papoilas já se tinham deitado,
o anho e o seu rebanho também já não os via
Fiquei triste e em silêncio no meio do prado,
o entardecer traz-me sempre a melancolia,
revejo-me no Sol a descair para o ocaso
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Vou mudar de rumo
Sou pedreiro,
construo castelos de pedra,
castelos efémeros,
são castelos de casinhas,
mas são os meus castelos,
são castelos de pedrinhas,
uns feios, outros belos,
alguns são pesadelos
Sim, sou pedreiro,
construo castelos de poemas
que não se seguram ao chão
nem ao canteiro,
seguram-se às minhas penas
e ao meu tinteiro
Nos meus castelos
não vivem reis, rainhas, donzelas,
bobos, pagens, príncipes, princesas,
os meus castelos não têm brasão,
nem torres, nem armas, nem ameias,
nem prisão
Por isso, os meus castelos ninguém os vê,
compreendo,
um castelo tem de ser altaneiro,
nele deve assobiar o vento,
nele deve pernoitar o romeiro
Mas vou mudar de rumo,
vou ser carpinteiro,
vou comprar um serrote, uma enxó,
uma plaina, uma fita métrica, limas, grosas,
um arco de pua, um formão, uma verruma,
vou fabricar caixinhas de madeira
para guardarem amores, beijos, rosas,
vou forrá-las com carinho e sumaúma,
depois vou vendê-las à feira
Sim, vou mudar de rumo,
vou ser marceneiro,
vou talhar a dura madeira
do carvalho, ou do castanheiro,
para fazer com ela corações eternos
como os diamantes,
uns grandes, outros pequenos,
mas todos vestidos de vermelho,
depois vou oferecê-los aos amantes
para que não deixem morrer o amor,
nem de novo, nem de velho
Sou pedreiro,
construo castelos de pedra,
castelos efémeros,
são castelos de casinhas,
mas são os meus castelos,
são castelos de pedrinhas,
uns feios, outros belos,
alguns são pesadelos
Sim, sou pedreiro,
construo castelos de poemas
que não se seguram ao chão
nem ao canteiro,
seguram-se às minhas penas
e ao meu tinteiro
Nos meus castelos
não vivem reis, rainhas, donzelas,
bobos, pagens, príncipes, princesas,
os meus castelos não têm brasão,
nem torres, nem armas, nem ameias,
nem prisão
Por isso, os meus castelos ninguém os vê,
compreendo,
um castelo tem de ser altaneiro,
nele deve assobiar o vento,
nele deve pernoitar o romeiro
Mas vou mudar de rumo,
vou ser carpinteiro,
vou comprar um serrote, uma enxó,
uma plaina, uma fita métrica, limas, grosas,
um arco de pua, um formão, uma verruma,
vou fabricar caixinhas de madeira
para guardarem amores, beijos, rosas,
vou forrá-las com carinho e sumaúma,
depois vou vendê-las à feira
Sim, vou mudar de rumo,
vou ser marceneiro,
vou talhar a dura madeira
do carvalho, ou do castanheiro,
para fazer com ela corações eternos
como os diamantes,
uns grandes, outros pequenos,
mas todos vestidos de vermelho,
depois vou oferecê-los aos amantes
para que não deixem morrer o amor,
nem de novo, nem de velho
segunda-feira, 4 de maio de 2015
Acudam ao fogo
Acudam ao fogo,
acudam ao fogo,
gritam os aldeões
a plenos pulmões,
o fogo começou no Covão do Corvo
e já chegou às Covas Largas,
Deus nos acuda se ele chega
às Penas do Talho da Cova,
gritam os aldeões
a plenos pulmões,
Deus nos acuda,
que ainda arde isto tudo
Toda a aldeia é um grito,
acudam ao fogo,
os bombeiros andam por outros lados,
não podem acudir aqui,
forquilhas, enxadas, ramos frescos,
baldes de água da lagoa, sachos,
tudo serve para atacar o fogo
Olhem,
o fogo já chegou à Lagoa do Braçal,
ao Chão do Louro, ao Casal do Gaio,
ao Vale da Pedreira
ao Cabeço da Pia,
ao Algar da Carreira,
vamos todos acudir à casa do Perpétuo,
se ele pega na Choisa Longa
depressa chega ao Vale da Ceta,
acudam ao fogo,
gritam os aldeões com mais força
Quando acordei,
o almoço já não tardava,
a aldeia estava calma e a grei
saía da missa à gargalhada,
afinal, o fogo que incendeia
a minha aldeia sempre que se encontra
com uma acendalha,
não andou por lá agora,
aliás, chovia que Deus a dava
Acudam ao fogo,
acudam ao fogo,
gritam os aldeões
a plenos pulmões,
o fogo começou no Covão do Corvo
e já chegou às Covas Largas,
Deus nos acuda se ele chega
às Penas do Talho da Cova,
gritam os aldeões
a plenos pulmões,
Deus nos acuda,
que ainda arde isto tudo
Toda a aldeia é um grito,
acudam ao fogo,
os bombeiros andam por outros lados,
não podem acudir aqui,
forquilhas, enxadas, ramos frescos,
baldes de água da lagoa, sachos,
tudo serve para atacar o fogo
Olhem,
o fogo já chegou à Lagoa do Braçal,
ao Chão do Louro, ao Casal do Gaio,
ao Vale da Pedreira
ao Cabeço da Pia,
ao Algar da Carreira,
vamos todos acudir à casa do Perpétuo,
se ele pega na Choisa Longa
depressa chega ao Vale da Ceta,
acudam ao fogo,
gritam os aldeões com mais força
Quando acordei,
o almoço já não tardava,
a aldeia estava calma e a grei
saía da missa à gargalhada,
afinal, o fogo que incendeia
a minha aldeia sempre que se encontra
com uma acendalha,
não andou por lá agora,
aliás, chovia que Deus a dava
sexta-feira, 1 de maio de 2015
Vai pastor
Levanta-se de madrugada
e enfia logo a carapuça,
não lava a cara, a água está gelada,
calça-se, benze-se, arrecada a bucha
e abre a jornada
Vai pastor, vai pastor, está na hora
de levares o teu rebanho a pastar,
já clareia a aurora
que tomou o lugar do luar
Vai pastor, vai pastor,
mas não calques o orvalho
nem a tua dor,
vai e segue o som do chocalho,
o rebanho conhece de cor
o atalho
Mas tu, ó madrugada,
porque não gostas do pastor?
porque lhe cobres os pés de dor
e de branca geada?
"Vai mal calçado o pastor"
reponde-me a madrugada
Vai pastor, vai pastor,
vai apascentar o teu rebanho,
vai e não me acordes, ó pastor,
deixa-me ficar no meu torpor,
não quebres o meu sono de anho
que me oferece a madrugada,
vai pastor, vai pastor,
vai e não percas o teu rebanho
nem a tua jornada
--------------------------------
Viva o Primeiro de Maio
Viva o Dia do Trabalhador
Levanta-se de madrugada
e enfia logo a carapuça,
não lava a cara, a água está gelada,
calça-se, benze-se, arrecada a bucha
e abre a jornada
Vai pastor, vai pastor, está na hora
de levares o teu rebanho a pastar,
já clareia a aurora
que tomou o lugar do luar
Vai pastor, vai pastor,
mas não calques o orvalho
nem a tua dor,
vai e segue o som do chocalho,
o rebanho conhece de cor
o atalho
Mas tu, ó madrugada,
porque não gostas do pastor?
porque lhe cobres os pés de dor
e de branca geada?
"Vai mal calçado o pastor"
reponde-me a madrugada
Vai pastor, vai pastor,
vai apascentar o teu rebanho,
vai e não me acordes, ó pastor,
deixa-me ficar no meu torpor,
não quebres o meu sono de anho
que me oferece a madrugada,
vai pastor, vai pastor,
vai e não percas o teu rebanho
nem a tua jornada
--------------------------------
Viva o Primeiro de Maio
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