quarta-feira, 17 de junho de 2015

Já não há petróleo

Ontem foi extraído o último barril de crude
do manto da Terra, um beduíno carregou-o
no dorso do seu camelo e levou-o para o sul,
seguindo a caravana da sua tribo que deixou
os arranha-céus que quase picam o céu azul
aquecido pelo deserto, mas que mundo louco

A mama da Terra secou, acabou-se o petróleo,
gritam os humanos que não vivem na selva,
acabou a força do gás, da gasolina, do gasóleo,
os aviões não voam, os aeroportos são relva,
as cidades são desertos de cimento e de ódio,
em Londres, os rolls-royce andam a erva

Enchem-se as vielas de cavalos, mulas e jumentos
a puxarem carros, carroças, barcos com rodas,
a palha está muito cara, todos os dias há aumentos,
ninguém limpa as ruas, estão cheias de bostas,
nas auto-estradas, nas pontes, nos cruzamentos,
não há camiões, carrinhas, automóveis, motas

Já não há energia nuclear, foi à falência,
falta espaço seguro para guardar os detritos,
um problema sem solução, diz a ciência,
a pilha solar falhou, assim como todos os mitos
de energia barata, inesgotável e de muita potência,
como vai o bicho-Homem manter os seus hábitos?

Coitado, ainda tem luz, vem do carvão, do vento,
da força dos rios, mas só dá para alumiar
a noite dos becos e dos que vivem ao relento,
não aquece, não arrefece, não faz movimentar
nada, nem os comboios, parece que o tempo
voltou para trás, mas não, só está a mudar

Coitado, o bicho-Homem está muito mais fraco,
há mais doenças, menos curas, as juntas de bois
voltaram para lavrar os campos, mas não há pasto
para alimentar as bestas, o Sol aquece por dois sóis,
mas o que é que está a acontecer neste terreno astro?
É a Terra que está a tirar da sua face os bichos-homens

Ela cedeu-lhes o ar, o mar, o solo, o subsolo,
os rios, os lagos, as florestas, deu-lhes tudo
o que eles precisavam para viverem no seu colo,
deu-lhes outros bichos, era um belo mundo,
deu-lhes as boas-vindas, luz, calor e consolo,
mas eles estragaram tudo, não merecem o futuro