Credo, tanta merda
Metade dos indianos defeca
ao ar livre, li eu nos jornais,
credo, tanta merda!
são muitos cus, nem menos, nem mais,
são quinhentos e noventa
e sete milhões de cus ao léu,
credo, tanta gente
e tanta merda a ver-se do céu
Os indianos obram assim
porque é mais arejado,
dizem uns,
porque não há sanitas,
dizem outros,
talvez só evacuem caganitas,
digo eu
Vão em fila indiana para o descampado,
as mulheres encostam à direita,
os homens à esquerda,
uns escondem o rabo,
outros é logo ali,
ganha quem fizer mais merda
e verter mais chichi
E como defecarão as mulheres
com aqueles vestidos coloridos?
Como limparão elas as fezes
e outros restos dos corpos moídos?
- Ó vizinha, ó vizinha,
eu já não aguento.
não quer vir comigo ao relento,
tenho medo de cagar sozinha
E eis um país que gasta fortunas
a armar um dos exércitos
mais poderosos da Terra,
um país que tem foguetões, pumas,
satélites,
centenas de aviões de combate,
searas de mísseis terra-terra
e terra-ar,
um país que tem o "Buda Sorridente",
sim, tem o "Buda Sorridente",
o nome de baptismo da sua bomba nuclear
armazenada no grosso ventre
de um Buda a arreganhar o dente
E eis um país
que tem mais sei lá o quê,
tem, tem,
mas não tem dinheiro para sanitas,
nem para canalizar a merda,
credo, tanta merda!
sexta-feira, 31 de julho de 2015
domingo, 26 de julho de 2015
Outra Terra
O Homem descobriu outra Terra,
chama-se Keppler 452b,
mas isto é nome que se dê
a um irmão gémeo
que também respira oxigênio?
Chamem-lhe antes Terrão,
é maior que a Terra, tem 385 dias o ano,
chega mais tarde o Verão,
o Natal e a passagem de ano também
Quando vou á aldeia onde nasci,
digo aos amigos,
aos que não têm terra,
que vou à minha terra,
quando se morre é-se enterrado
debaixo de dois palmos de terra,
quando juramos uma verdade,
dizemos que a vimos
com os olhos que a terra nos há-de comer,
tudo o que temos de certo e de errado
tem origem na Terra,
a lata, o latão, os sapatos,
o chapéu, as calças, a samarra,
a água, as armas, os parvos,
o nascer, o viver, o morrer,
o conforto, o alimento,
porra, é tudo da Terra
e tudo o que mexe apodrece na terra,
menos a água e o vento
E há os que fogem da sua terra,
porque aí não são nada,
procuram outra terra,
outro solo, outra madrugada,
onde haja pão, trabalho, liberdade,
uma vida digna, mesmo a chorar
de saudade,
muitos desses perdem a sua terra
e nunca encontram outra,
são os desterrados que se enterram
cada vez mais nesta Terra,
um planeta azul com muitas lágrimas
e onde se prega
que as dores terráqueas
abrem as portas da vida eterna
no etéreo,
onde o chão não tem terra,
só céu
Mas o Homem descobriu outra Terra!
embora para lá, estou farto desta
E alguém diz:
- fica à distância de 1400 anos-luz,
na constelação do Cisne;
- ora bolas,
alguém me traduz
isso em quilómetros?
O Homem descobriu outra Terra,
chama-se Keppler 452b,
mas isto é nome que se dê
a um irmão gémeo
que também respira oxigênio?
Chamem-lhe antes Terrão,
é maior que a Terra, tem 385 dias o ano,
chega mais tarde o Verão,
o Natal e a passagem de ano também
Quando vou á aldeia onde nasci,
digo aos amigos,
aos que não têm terra,
que vou à minha terra,
quando se morre é-se enterrado
debaixo de dois palmos de terra,
quando juramos uma verdade,
dizemos que a vimos
com os olhos que a terra nos há-de comer,
tudo o que temos de certo e de errado
tem origem na Terra,
a lata, o latão, os sapatos,
o chapéu, as calças, a samarra,
a água, as armas, os parvos,
o nascer, o viver, o morrer,
o conforto, o alimento,
porra, é tudo da Terra
e tudo o que mexe apodrece na terra,
menos a água e o vento
E há os que fogem da sua terra,
porque aí não são nada,
procuram outra terra,
outro solo, outra madrugada,
onde haja pão, trabalho, liberdade,
uma vida digna, mesmo a chorar
de saudade,
muitos desses perdem a sua terra
e nunca encontram outra,
são os desterrados que se enterram
cada vez mais nesta Terra,
um planeta azul com muitas lágrimas
e onde se prega
que as dores terráqueas
abrem as portas da vida eterna
no etéreo,
onde o chão não tem terra,
só céu
Mas o Homem descobriu outra Terra!
embora para lá, estou farto desta
E alguém diz:
- fica à distância de 1400 anos-luz,
na constelação do Cisne;
- ora bolas,
alguém me traduz
isso em quilómetros?
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Cantiga a um mexilhão
O mexilhão perdeu o "lhão",
perdeu também a sua concha,
está lixado o mexilhão
Foi expulso da sua rocha,
ficou sem lar o mexilhão,
boia à deriva pela costa
a procurar casa e pão,
queria ser uma lagosta,
mas lixaram o mexilhão
Encosta-se a uma lapa,
mas esta não lhe dá a mão,
os percebes não vêem nada,
uma amêijoa diz-lhe que não,
e o mexilhão já é papa,
está comido o mexilhão
Um mexilhão que se mexia
na rocha pra não ser lixado,
ele era assim, não queria
ser sempre ele o quilhado,
pois é mexilhão, melhor seria
estares quieto e calado
Cagou-o na praia a gaivota,
é caca que não caga o chão,
nem borra o pé, nem a bota,
nem sequer é um cagalhão
ele que queria ser lagosta,
coitado do meu mexilhão
E aqui fica este meu canto
a um mexilhão que mexia
por não aguentar o canto
daquela rocha onde crescia
com o fado de ser tutano
de um bivalve que se lixa
O mexilhão perdeu o "lhão",
perdeu também a sua concha,
está lixado o mexilhão
Foi expulso da sua rocha,
ficou sem lar o mexilhão,
boia à deriva pela costa
a procurar casa e pão,
queria ser uma lagosta,
mas lixaram o mexilhão
Encosta-se a uma lapa,
mas esta não lhe dá a mão,
os percebes não vêem nada,
uma amêijoa diz-lhe que não,
e o mexilhão já é papa,
está comido o mexilhão
Um mexilhão que se mexia
na rocha pra não ser lixado,
ele era assim, não queria
ser sempre ele o quilhado,
pois é mexilhão, melhor seria
estares quieto e calado
Cagou-o na praia a gaivota,
é caca que não caga o chão,
nem borra o pé, nem a bota,
nem sequer é um cagalhão
ele que queria ser lagosta,
coitado do meu mexilhão
E aqui fica este meu canto
a um mexilhão que mexia
por não aguentar o canto
daquela rocha onde crescia
com o fado de ser tutano
de um bivalve que se lixa
segunda-feira, 20 de julho de 2015
Os reis do petróleo
Pelo-me de medo
quando vejo os rostos
carrancudos dos reis
do deserto,
são façanhudos,
não devem rir,
nunca,
e são pançudos
os seus corpos
sempre envoltos
em sobretudos,
são os reis do crude
que jaz debaixo do deserto
inóspito e rude,
são todos iguais ao original,
o guerreiro beduíno
que tinha cara de mau
e corpo de mé-mé
Esses reis
têm todos barriga de rei,
não como a minha,
(sou o Vitório Rei),
que está quase vazia
E soube agora
que um desses reis,
o mau dos maus,
exigiu a um "maire"
da Côte D'Azur
o encerramento ao público
de uma praia pública
que está junto ao seu palácio
de férias
O "maire" disse que sim,
vai à merda,
ó "maire"
Pelo-me de medo
quando vejo os rostos
carrancudos dos reis
do deserto,
são façanhudos,
não devem rir,
nunca,
e são pançudos
os seus corpos
sempre envoltos
em sobretudos,
são os reis do crude
que jaz debaixo do deserto
inóspito e rude,
são todos iguais ao original,
o guerreiro beduíno
que tinha cara de mau
e corpo de mé-mé
Esses reis
têm todos barriga de rei,
não como a minha,
(sou o Vitório Rei),
que está quase vazia
E soube agora
que um desses reis,
o mau dos maus,
exigiu a um "maire"
da Côte D'Azur
o encerramento ao público
de uma praia pública
que está junto ao seu palácio
de férias
O "maire" disse que sim,
vai à merda,
ó "maire"
domingo, 19 de julho de 2015
Uma flor azul
Sou um gineceu
d´uma flor azul,
azul como o céu
que me dá a luz
Abano o estigma,
sacudo o estilete,
estou feminina,
quero ser semente
Bate as asas, bate,
pássaro do céu,
com o teu bate, bate,
cai o androceu
E eu aqui ao léu
para o amar,
e tu a voar,
pássaro do céu
Vem meu androceu,
beija o meu estilete
com o teu filete,
vem que tu és meu
Vem meu androceu,
quero que me ames,
vem meu androceu,
dá-me os teus estames
Fizemos amor,
guardei o pólen,
se brilhar o Sol
nasce outra flor
Sou um gineceu
d´uma flor azul,
azul como o céu
que me dá a luz
Abano o estigma,
sacudo o estilete,
estou feminina,
quero ser semente
Bate as asas, bate,
pássaro do céu,
com o teu bate, bate,
cai o androceu
E eu aqui ao léu
para o amar,
e tu a voar,
pássaro do céu
Vem meu androceu,
beija o meu estilete
com o teu filete,
vem que tu és meu
Vem meu androceu,
quero que me ames,
vem meu androceu,
dá-me os teus estames
Fizemos amor,
guardei o pólen,
se brilhar o Sol
nasce outra flor
sexta-feira, 17 de julho de 2015
O velho da praia dos Medos
O velho da praia dos Medos
apanhava sol e sal
sem segredos,
mostrava tudo tal e qual,
mostrava o cu e o vergalho,
mostrava as nádegas
e o volumoso malho
que das pernas lhe pendia
como um chocalho
a badalar o meio-dia
O velho da praia dos Medos
estava a ser honesto,
estava com calor
como quando veio ao mundo,
e veio todo nu, sem complexos,
despido de panos e de pudor
Um dia,
se eu chegar a velho
e se perder o medo
de não ter coragem de ser velho,
alguém dirá também
que me viu velho
a apanhar sol e sal
na praia dos Medos,
feio, sem complexos
e animal
O velho da praia dos Medos
apanhava sol e sal
sem segredos,
mostrava tudo tal e qual,
mostrava o cu e o vergalho,
mostrava as nádegas
e o volumoso malho
que das pernas lhe pendia
como um chocalho
a badalar o meio-dia
O velho da praia dos Medos
estava a ser honesto,
estava com calor
como quando veio ao mundo,
e veio todo nu, sem complexos,
despido de panos e de pudor
Um dia,
se eu chegar a velho
e se perder o medo
de não ter coragem de ser velho,
alguém dirá também
que me viu velho
a apanhar sol e sal
na praia dos Medos,
feio, sem complexos
e animal
quarta-feira, 15 de julho de 2015
domingo, 12 de julho de 2015
Enquadrando o tempo
Acordo e ouço o tempo,
muito sol no continente,
nortada no norte e centro,
no sul, vento do poente
Ouço o tempo que faz,
que está ou que vai fazer,
o que passa já não está
e passou sem nada dizer
O tempo que passa, voa,
tem uma rota, um destino
e nada o abalroa,
segue sempre o seu caminho
O tempo voa e passa
por nós, mas não o sentimos
a passar, nem o ouvimos,
passa por cima, perpassa
Mas envelhece-nos, mói-nos,
cruza-nos com tempestades,
raios, coriscos, demónios,
alegrias, ansiedades
O tempo passa por nós
e nós temos que ocupá-lo
com o nosso corpo e voz,
dentro do nosso espaço
O tempo passa por nós
e nós passamos o tempo,
mas há quem o mate só,
e quem o perca pra sempre
E cada um de nós tem
o seu tempo, não há mais,
há-que aproveitá-lo bem
porque ele não volta atrás
Amanhã quero acordar
novamente a escutar
o tempo, se o meu tempo
me deixar chegar a tempo
Estou eu assim modorrento,
quando uma voz me reclama:
- acorda, salta da cama,
estás a perder o teu tempo
E também me diz o tempo:
- levanta-te, companheiro,
na cama e pachorrento
perdes tempo e dinheiro
Sigo a voz e o tempo
salto da cama alfazema,
lavo o meu pensamento
e escrevo este poema
Acordo e ouço o tempo,
muito sol no continente,
nortada no norte e centro,
no sul, vento do poente
Ouço o tempo que faz,
que está ou que vai fazer,
o que passa já não está
e passou sem nada dizer
O tempo que passa, voa,
tem uma rota, um destino
e nada o abalroa,
segue sempre o seu caminho
O tempo voa e passa
por nós, mas não o sentimos
a passar, nem o ouvimos,
passa por cima, perpassa
Mas envelhece-nos, mói-nos,
cruza-nos com tempestades,
raios, coriscos, demónios,
alegrias, ansiedades
O tempo passa por nós
e nós temos que ocupá-lo
com o nosso corpo e voz,
dentro do nosso espaço
O tempo passa por nós
e nós passamos o tempo,
mas há quem o mate só,
e quem o perca pra sempre
E cada um de nós tem
o seu tempo, não há mais,
há-que aproveitá-lo bem
porque ele não volta atrás
Amanhã quero acordar
novamente a escutar
o tempo, se o meu tempo
me deixar chegar a tempo
Estou eu assim modorrento,
quando uma voz me reclama:
- acorda, salta da cama,
estás a perder o teu tempo
E também me diz o tempo:
- levanta-te, companheiro,
na cama e pachorrento
perdes tempo e dinheiro
Sigo a voz e o tempo
salto da cama alfazema,
lavo o meu pensamento
e escrevo este poema
quinta-feira, 9 de julho de 2015
A vida deste mar imenso
Estou na praia e o mar está ali,
calmo, sereno, maré vazia,
entrei nele há pouco,
mas só me molhou os pés,
não gostou de mim,
pois é,
este mar imenso
seduz-me, droga-me
e depois não me deixa entrar no silêncio
do seu ventre,
se lá entro, afoga-me
Por isso só vejo o que se passa
à flor da sua água
Se está bravo,
ruge, fustiga, enerva-se, escuma,
suga as pesadas nuvens de chuva,
cria grandes ondas para, uma a uma,
morrerem na praia,
numa cama de espuma,
ou contra as rochas,
num choque de raiva
Se está calmo,
é um vasto espelho de água
onde a Lua espalha
os seus cabelos de prata
e onde o Sol se esconde
para lá do horizonte
E não consigo ver mais nada
que seja dele
Ó mar imenso,
por que razão não me mostras
a vida que tens no teu ventre?
por que razão me afogas
se eu entrar por ti adentro?
Responde-me, ó mar imenso,
pode ser com um remoinho,
com um bramido mais intenso,
com um guincho de um golfinho,
pode ser como quiseres,
mas responde-me, ó mar imenso
E nada, ele não me responde,
só me manda ondas e marés,
ó, quem me dera ser anfíbio,
ó, quem me dera ser esponja,
ó, quem me dera ser tudo,
para poder mergulhar no infinito
profundo
Estou na praia e o mar está ali,
calmo, sereno, maré vazia,
entrei nele há pouco,
mas só me molhou os pés,
não gostou de mim,
pois é,
este mar imenso
seduz-me, droga-me
e depois não me deixa entrar no silêncio
do seu ventre,
se lá entro, afoga-me
Por isso só vejo o que se passa
à flor da sua água
Se está bravo,
ruge, fustiga, enerva-se, escuma,
suga as pesadas nuvens de chuva,
cria grandes ondas para, uma a uma,
morrerem na praia,
numa cama de espuma,
ou contra as rochas,
num choque de raiva
Se está calmo,
é um vasto espelho de água
onde a Lua espalha
os seus cabelos de prata
e onde o Sol se esconde
para lá do horizonte
E não consigo ver mais nada
que seja dele
Ó mar imenso,
por que razão não me mostras
a vida que tens no teu ventre?
por que razão me afogas
se eu entrar por ti adentro?
Responde-me, ó mar imenso,
pode ser com um remoinho,
com um bramido mais intenso,
com um guincho de um golfinho,
pode ser como quiseres,
mas responde-me, ó mar imenso
E nada, ele não me responde,
só me manda ondas e marés,
ó, quem me dera ser anfíbio,
ó, quem me dera ser esponja,
ó, quem me dera ser tudo,
para poder mergulhar no infinito
profundo
sábado, 4 de julho de 2015
Alfa e Ómega
Alfa, Beta, Gama, Delta,
Épsilon, Zeta, Eta, Teta,
Iota, Kapa, Lambda, Mu,
Nu, Csi, Ómicron, Pi,
Rô, Sigma, Tau, Úpsilon,
Fi, Qui, Psi, Ómega
Alfa e Ómega,
o princípio e o fim
do alfabeto grego,
e é com algumas dessas letras
que se escreve não, sim,
em grego
Eu não sou grego,
mas também estou assustado,
tenho o mesmo medo,
dizer sim, dizer não, ou dizer nada,
tanto faz,
fico na mesma crucificado
quando, daqui a uns meses,
todos os portugueses
forem também obrigados
a dizer sim, ou não,
aos seus credores endinheirados
que querem ficar ainda mais ricos
sugando quem não tem pão,
vão todos bardamerda: os credores, os mercados,
os banqueiros e os seus porta-vozes, os políticos
Sim, vão todos bardamerda,
mas se não quiserem ir
fiquem e expliquem-me por que razão
convenceram os tesos a pedir
emprestado o vosso dinheiro?
Foi por solidariedade? Foi por compaixão?
Não acredito, seus vis usurários
Alfa, Beta, Gama, Delta,
Épsilon, Zeta, Eta, Teta,
Iota, Kapa, Lambda, Mu,
Nu, Csi, Ómicron, Pi,
Rô, Sigma, Tau, Úpsilon,
Fi, Qui, Psi, Ómega
Alfa e Ómega,
o princípio e o fim
do alfabeto grego,
e é com algumas dessas letras
que se escreve não, sim,
em grego
Eu não sou grego,
mas também estou assustado,
tenho o mesmo medo,
dizer sim, dizer não, ou dizer nada,
tanto faz,
fico na mesma crucificado
quando, daqui a uns meses,
todos os portugueses
forem também obrigados
a dizer sim, ou não,
aos seus credores endinheirados
que querem ficar ainda mais ricos
sugando quem não tem pão,
vão todos bardamerda: os credores, os mercados,
os banqueiros e os seus porta-vozes, os políticos
Sim, vão todos bardamerda,
mas se não quiserem ir
fiquem e expliquem-me por que razão
convenceram os tesos a pedir
emprestado o vosso dinheiro?
Foi por solidariedade? Foi por compaixão?
Não acredito, seus vis usurários
sexta-feira, 3 de julho de 2015
A vida é uma maravilha
Nascemos e já está,
somos,
estamos cá,
já não voltamos para dentro
do mundo dos gnomos,
estamos cá,
e começamos logo a chorar,
sim, quando nascemos
temos que chorar,
é a nossa marca, o nosso selo,
somos os únicos animais
a fazê-lo
Sim, nascemos a chorar,
choramos porque vimos a sofrer
e a fazer sofrer,
porque vimos num corpo
de cálcio, ferro, água e sal,
um corpo onde corre sangue a ferver
temperado com o bem e com o mal
Nascemos e desde muito cedo
temos medo,
gritam connosco,
somos empurrados,
temos de crescer,
começamos colados ao colo
e acabamos desamparados
a morrer
Mas temos de crescer sem pensar na morte,
dizem-nos que a vida é uma maravilha,
e, de facto, é uma maravilha a vida,
andamos sempre em frente, o desejo é forte,
nunca voltamos atrás, isso não está previsto,
estamos sempre na linha de partida
agarrados ao que está feito, ao que está escrito,
não há espaço para desfazer o erro,
nem para apagar a verdade que era mentira,
e, por vezes, nem sequer há tempo
para o arrependimento
Porque, de repente,
foge-nos o chão,
ficamos com o corpo tenso,
falha-nos o coração,
não sentimos o vento
a soprar no peito,
vemos tudo de perfil,
e pronto! chegou o momento,
ela entra, olha, encadeia-se com o cheiro
e, num acto de misericórdia, estica-nos o pernil
A vida é uma maravilha
Nascemos e já está,
somos,
estamos cá,
já não voltamos para dentro
do mundo dos gnomos,
estamos cá,
e começamos logo a chorar,
sim, quando nascemos
temos que chorar,
é a nossa marca, o nosso selo,
somos os únicos animais
a fazê-lo
Sim, nascemos a chorar,
choramos porque vimos a sofrer
e a fazer sofrer,
porque vimos num corpo
de cálcio, ferro, água e sal,
um corpo onde corre sangue a ferver
temperado com o bem e com o mal
Nascemos e desde muito cedo
temos medo,
gritam connosco,
somos empurrados,
temos de crescer,
começamos colados ao colo
e acabamos desamparados
a morrer
Mas temos de crescer sem pensar na morte,
dizem-nos que a vida é uma maravilha,
e, de facto, é uma maravilha a vida,
andamos sempre em frente, o desejo é forte,
nunca voltamos atrás, isso não está previsto,
estamos sempre na linha de partida
agarrados ao que está feito, ao que está escrito,
não há espaço para desfazer o erro,
nem para apagar a verdade que era mentira,
e, por vezes, nem sequer há tempo
para o arrependimento
Porque, de repente,
foge-nos o chão,
ficamos com o corpo tenso,
falha-nos o coração,
não sentimos o vento
a soprar no peito,
vemos tudo de perfil,
e pronto! chegou o momento,
ela entra, olha, encadeia-se com o cheiro
e, num acto de misericórdia, estica-nos o pernil
A vida é uma maravilha
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