sexta-feira, 22 de julho de 2016


Voltei a casa

Voltei a casa,
só para passar o fim-de-semana,
voltei a casa, mas não voltei a casa,
a casa é a mesma,
a mobília também,
a família também,
eu é que não sou o mesmo,
parece que vim do além
estou como uma lesma
que se lamenta
de ser muito lenta
e não poder morder ninguém

O vento uiva
através da janela
entreaberta
e quando o vento uiva
e não traz chuva
é porque não activa
o coração da nuvem,
não passa de aragem muda
sem vida,
o vento que agora
sopra
dentro de mim
também não tem vida
porque o meu cérebro
deixou de activar
a função de andar
e eu quebro
porque este vento só uiva
e não traz chuva
para despertar
o meu cérebro,
"Tens de esperar
muito tempo.",
responde a LUZ
ao meu lamento.
E este vento, este vento
continua a impor
o seu seco uivo andaluz
que não traz chuva, só muito calor
e sobre mim voa um mosquito
que gostou do meu cheiro a dor,
vai-te embora, mosquito,
que não te posso espantar
porque só tenho ao meu dispor
a mão direita que está a teclar

Desculpem-me, caros leitores, esta desordem de palavras,
elas queriam ser quadras,
mas uma forte aragem mandou às malvas
a geometria
da poesia