terça-feira, 27 de setembro de 2016

Tudo se repete *

Tenta,
tenta experimentar a felicidade
logo de manhã,
tenta saborear a tarde
que ainda não é noite

À noite,
tenta varrer o escuro
para o alçapão da claridade,
assim não te arrefece,
e nunca esqueças que depois da noite
amanhece,
é outro dia e novamente a luz,
e tudo se repete
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* Encontrei agora estes versos que publico tal como os deixara em rascunho na manhã de 2 de Fevereiro passado.
Nesse 2 de Fevereiro, terça-feira, à noite, haveria de ter a visita medonha do avc que me mudou a vida sem pedir autorização nem me dar tempo de varrer nada ...
Ar

Olá, caros leitores
Tive alta do hospital,
já lá estava a mais
e vim para casa
para os braços de outros terapeutas,
a minha mulher e as nossas filhas
Agora apetece-me reconquistar Ceuta
e outras 'melilhas'
mas ainda não recuperei o andar
Continuo maneta
e canto sem parar
Eu não quero
um avc tão severo
quero andar, andar, andar
marchar, marchar

Quando inspiro
entra ar
quando expiro
sai ar,
ar, ar ar, ar
deixem circular o ar,
respirar, respirar, respirar
Deixem soprar o ar
ar puro, ar sujo,
e fujo, fujo, fujo
do pessimismo, da derrota,
deixem de poluir o ar
que eu arfo, arfo, arfo
se me falta o ar
Estou farto, farto, farto
da falta de ar,
deixem entrar o ar por aqui adentro
para eu respirar
e acalmar
a força do vento
que é só ar
por vezes quente e cheio de humidade,
e da chuva
que faz estalar a tempestade,
vento que empurra, empurra
e quebra tudo
mesmo o que se agarra
à terra com raízes de verga dura
com garras e pouca parra

Quero andar,
quero mergulhar
no ar em movimento
e nunca vergar
com a força do vento
que me move
com ais de lamento
sempre que chove
na minha varanda
de cimento
Anda, anda, anda,
tenho medo
do desespero
de ficar só
com a minha voz,
mas não ficarei
enquanto tiver uma Luz
que sempre amarei

Mas tenho medo
da voz do ar seco,
do ar manchego
que respirava o Dom Quixote
sempre a gritar e a ditar
o que estava errado e certo
e ninguém lhe roubou o dote
de grande filósofo a cavalgar
no deserto

Quero o ar
o ar do mar
que ventila
a minha janela
e a varanda
e anda e anda e anda
encostado à cancela
ao ritmo da batuta
da chefe da orquestra

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Saudade

Tenho saudade
dos rostos das pessoas
que cirandam pela minha cidade
e da gente que passeia
nas ruas da minha aldeia
Choro de saudade
do amigo
que passava por mim
no Rossio
Choro de saudade
da liberdade
de seguir a alcateia
por montes e vales

Por favor, tirem-me desta cadeia
que me prende o corpo
com correntes de avc e com outros males
Por favor, tragam-me a panaceia
que endireite este corpo torto
Por favor, não me faltes
agora, ó esperança de sal do mar  morto
que ainda não morreu

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Domingo à tarde pelas sete e tal

Domingo à tarde
ainda é fim-de-semana,
mas não estou na praia
nem à sombra
das frondosas árvores do parque,
estou a ser conduzido pela Mariana
para o hospital onde reside agora a minha fronha,
terminando assim o meu fim-de-semana

E vem o vazio
domingo à tardinha
A água do meu rio
continua escondida
mas ainda é rio
apesar da erva daninha
outra vez nas suas margens

Muito obrigado, filhinha,
pelo carinho com que tu e a Luzinha
me conduzem
ao hospital
domingo à tardinha,
pelas sete e tal

Todavia
depois destas curvas
conto encontrar
a minha cura