quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Ensinem-me

Ensinem-me a remar,
ensinem-me a remar
contra a maré, contra a maré
ensinem-me a andar,
ensinem-me a andar,
a andar de pé, a andar de pé
ensinem-me a ter fé,
a ter fé, a ter fé
ensinem-me a suportar,
a suportar a dor, a dor
e a amar, a amar
seja como for, seja como for
ensinem-me a não desistir,
a não desistir
de passar o Bojador,
de encontrar de novo o meu corpo,
com mais calor
ensinem-me o caminho, o caminho
para ir "além da dor"
e ouço: cresça, cresça, cresça mais um pouquinho,
estique o joelho, estique o joelho, se faz favor
olhe em frente, olhe em frente! 

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Boa noite, doença

ainda estás aí?
queres dar cabo de mim?
Vai-te embora daqui, da minha cabeça,
do meu corpo, das minhas pernas,
do meu tronco avesso,
das minhas mãos perras

Vai-te embora, peço,
por que razão me encerras?
Confesso,
isto é duro como o aço,
"Não desista, mais um passo,
é uma ordem,
continue a lutar e tenha calma",
diz-me a terapeuta
com voz crente
e inteligente

Está bem, continuo em frente
mas por onde andará a minha alma?

domingo, 2 de outubro de 2016

Melancolia

Melancolia
mas que palavra tão melancólica,
soa à almotolia
que dava o azeite que embebia a tocha
da candeia que alimentava de esperança
a minha vista já frouxa
quando eu era criança,
essa candeia que deixava de alumiar
com uma simples corrente de ar

Agora a melancolia
acompanha-me todo o dia,
agora soa a arrelia,
chateia,
tira-me toda a energia
e nem sequer alumia
como a ténue luz da candeia
quando lia e relia
os textos da escola primária

A minha perna esquerda
perdeu toda a energia,
por isso quero voltar à luz incerta
da minha candeia
de azeite lampante
sempre pronta, sempre esperta,
que se punha cintilante
quando a porta estava aberta