domingo, 13 de novembro de 2016

Nas margens de um rio

Já sinto o frio
nas margens deste rio
Ó rio, leva-me contigo
leva-me na força da tua corrente
até ao sopé
da colina.
Não te levo, não,
facilmente perdes o pé
e ninguém te dá a mão.
Mas, ó rio
eu levo o meu tripé
O que é isso?
Acho que tens razão,
é melhor não ir
contigo,
o tripé não é barco
e tu és muito rápido
Fico
aqui
nesta margem
a olhar para ti
e a sonhar
na minha
próxima viagem,
quando o meu andar
for visto assim:
"Olhem, ele já caminha!"

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Olá, meus queridos pais

Desculpem-me por não ter ido ontem, 2 de Novembro,
visitar o sítio onde repousam os vossos restos mortais
Não fui porque não pude
e não por falta de virtude

Sabem, a minha vida agora é andar em cais
cada vez mais
escorregadios e, porque não me consigo segurar,
se não tiver quem me ajude,
qualquer dia caio ao mar
Se me faltar a mão de quem me anda a ajudar
se cair não consigo nadar
nem sequer navegar,
depressa ficarei com falta de ar

Nessa altura alguém no cais
ficará a chorar
como eu por vocês,
meus queridos pais,
quando deixaram de respirar

Mas enquanto não chegar a minha vez
continuarei a segurar-me a este cais
embora ainda não consiga andar
sem contar um, dois, três,
e sempre muito devagar
até voltar a renascer
como faz o mar
ao amanhecer