quinta-feira, 18 de maio de 2017

Uma noite de trovoada na charneca

Aquele transporte de vinho entre a Perulheira
e a Loureira era, na verdade, uma acção de contrabando,
duas mimosas pipas de vinho atravessavam a charneca
numa noite de trovoada em cima de um carro de bois
puxado por  uma simpática junta de vacas
guiadas pelo bando,
o meu pai e os filhos,

Não era comum estas carradas
circularem de noite por aqueles trilhos,
as autoridades não podiam saber que o vinho
vinha de uma adega
sem licença,
mas nessa noite não se via nada na charneca,
a chuva e o granizo encheram o caminho
de lama e de gelo,
valia o clarão dos relâmpagos
para se verem os lagos
e alguns dos barrocos de lama
que enchiam o caminho
por onde ia o vinho

Estava violenta a calma charneca,
finalmente, o vinho lá chegou a casa,
quando entrou, a lareira ainda estava acesa